“Eu acredito ter sido uma ação orquestrada com um começo, meio e fim”, diz Requião Filho sobre leilão de Colégio EUA


Por Flávia Barros Publicado 18/09/2023 às 21h33 Atualizado 18/02/2024 às 23h49
Colegio EUA, abandono, escola estadual - estados unidos
Em visita do JB Litoral, em 2021, a quadra poliesportiva do colégio EUA, que foi uma das primeiras da região a ter cobertura, já era dominado pelo mato. Foto: JB Litoral

No último dia 8, o JB Litoral trouxe uma reportagem que mostrou o futuro incerto do prédio que abrigou o Colégio Estadual Estados Unidos da América por 73 anos, mesmo quase seis anos após ser desativado. Localizado na retroárea da zona portuária de Paranaguá, o imóvel foi repassado do Governo do Estado para a Secretaria Estadual de Administração e Previdência (SEAP), que decidiu alienar o bem e o leiloou em dezembro de 2022. A empresa Centerlog Serviços e Participações SA arrematou o terreno por R$ 6.5 milhões, sendo a alienação homologada em janeiro de 2023. Porém, neste mês de setembro, a 2ª Inspetoria de Controle Externo (2ª ICE) do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR) questionou a venda do espaço, com a alegação de que houve uma “indevida alienação do terreno” e pedindo que o tribunal emita uma medida cautelar suspendendo a venda e quaisquer atos de transferência de propriedade perante o Registro de Imóveis de Paranaguá.

Questionamentos

Nesta segunda-feira (18), o JB Litoral conversou com o deputado estadual Maurício Thadeu de Mello e Silva, o Requião Filho (PT), que reforça o pedido feito ao TCE. Segundo defende o parlamentar, haveria um propósito para a alienação da área. “Tudo indica que esse terreno não poderia ter sido alienado porque ele tem uma cláusula que impede. E o que me parece é que houve um propósito disso; que era entregar a uma certa empresa, porque o valor arrecadado no leilão é muito abaixo do terreno similar que foi vendido ao lado”, diz Requião Filho.

O deputado também questiona o modo com que o leilão foi divulgado e a desativação da escola.

Foi um leilão que não teve publicidade; a entrega de um uma escola que foi desativada, desorganizada e destruída para que fosse entregue. E isso tudo cheira muito mal. Eu acredito ter sido uma ação orquestrada com um começo, meio e fim. Agora cabe ao tribunal e ao Ministério Público”, defende.

Acompanhamento

O deputado garante, ainda, que seguirá monitorando a situação. “Vamos continuar acompanhando essa questão, porque é uma escola histórica, inclusive. Tem uma história muito legal de como ela surgiu, como foi construída, porque ela foi construída, quem deu o terreno, como tudo isso aconteceu etc. Em vez de preservarem a história, investirem em educação, o governo quer liberar o espaço para algum financiador de campanha. O Tribunal de Contas já tomou as medidas e nós vamos acompanhar e fiscalizar o trabalho do tribunal”, afirma à reportagem.


Requião Filho também rebate a justificativa de que a escola foi desativada devido à alta evasão motivada pela área em que a unidade funcionava. “Estive lá recentemente, fazendo uma visita, vendo o absurdo que é aquilo, o tamanho daquele terreno, a escola maravilhosa que foi destruída ao invés de ter sido transformada, melhorada, ampliada. E essa história de que fica no meio de uma área portuária, e que por isso não dá para ter escola, por que não? Os filhos dos trabalhadores portuários não merecem escola? Se ela fosse mantida com a estrutura que tinha, não teria ocorrido essa evasão. O lugar foi abandonado de propósito, para que aquele terreno fosse cooptado por alguém. É o que tudo indica”, fala o parlamentar.

Outro destino

Sobre a afirmação do governo de que pretende destinar a verba do leilão para a construção de outras escolas em Paranaguá, Requião Filho acredita que não atende ao propósito. “Por que não reformaram, não melhoraram aquela? Por que não fizeram contraturnos? Por que vender para construir uma nova? A gente já tinha uma escola muito bem construída, com quadra coberta, com teatro, com uma estrutura maravilhosa que deveria sido mantida e modernizada. Não essa história de venda, e a preço de banana, para fazer duas escolas pequenas em algum lugar”, finaliza.

O que dizem TCE-PR e MPPR

Após a entrevista com Requião Filho, o JB Litoral voltou a procurar o TCE-PR. Segundo o órgão, a Representação instaurada pela 2ª ICE (Processo nº 462675/23), sob a superintendência do conselheiro Maurício Requião, segue em tramitação.

Já a assessoria de comunicação do MPPR, retornou o pedido da reportagem com a informação de que a solicitação foi encaminhada ao setor responsável.