JB Litoral conversa com sobreviventes da tragédia na BR-376; “ficamos pendurados em cima do caminhão”


Por Flávia Barros Publicado 30/11/2022 às 18h56 Atualizado 17/02/2024 às 22h53

O parnanguara Constâncio da Cruz nasceu de novo, aos 72 anos. Em conversa com o JB Litoral, nesta quarta-feira (30), ele contou como, juntamente com a esposa, a filha e o neto, de apenas quatro anos de idade, sobreviveram à tragédia que pode ter cerca de 30 mortos. Segundo o aposentado, ele dirigia o carro da família, no começo da noite de segunda-feira (28), para levar a filha, que estuda em Jaraguá do Sul (SC).

Estava chovendo muito na estrada, decidi parar o carro para esperar a chuva passar. Quando decidimos seguir avisaram que havia uma barreira logo mais à frente, uns 2 km mais ou menos. Começaram a segurar os carros, uma pista estava liberada e outra não, então passava um pouco de carro daqui e um pouco de lá pra cá, então estávamos parados esperando”, descreveu Constâncio, ao JB Litoral.

“Tudo muito rápido”

O morador de Paranaguá também explicou como foi o momento em que parte do morro veio abaixo e de que forma a família sobreviveu.

A lama desceu, a árvore desceu em cima do meu carro. Fomos parar lá do outro lado da pista, ficamos pendurados em cima do caminhão, ninguém se machucou, estou sentindo dores só agora. Não vi ninguém, não dá tempo de ver nada, é questão de segundos. Pra sair do carro eu soltei meu cinto de segurança e saí, em seguida minha filha passou o meu neto pra mim e saiu. Em seguida puxamos minha esposa, quero agradecer muito”, falou emocionado.

Seu Constâncio está na capital, com a família. “Estamos em Curitiba no hotel, meu celular estava no bolso, mas a minha esposa e minha filha perderam tudo, documentos, roupas, tudo. Inclusive tivemos que comprar tudo em Curitiba, roupas e calçados, sem a ajuda da prefeitura, tudo por minha conta”, finalizou.

SOLIDARIEDADE

A filha do aposentado, Letícia da Cruz do Santos, detalhou como foram os momentos após a família conseguir sair do carro.

Um tronco de árvore que caiu empurrou nosso carro para cima e nós batemos em uma caminhonete que vinha do outro lado. Só tivemos escoriações. A gente conseguiu sair pela porta do motorista, com o carro todo coberto de lama. Um ônibus da Viação Garcia acolheu a gente e o motorista deixou a gente entrar. Estávamos todos molhados, ensopados, mas viemos para Curitiba”, disse.

DESTRUIÇÃO

Ainda segundo Letícia, o pouco do cenário que ela conseguiu ver era de destruição. “Só vi um morro de areia que ficou, dois carros soterrados e um caminhão tombado. Na hora que caiu a gente pegou a borda da estrada, a areia entrou e levantou. Nosso carro foi um dos últimos do deslizamento. Além da terra, caiu árvore e isso foi levantando o carro. Eu vim descalça, sem documento, sem roupas”, contou a estudante.

VIRALIZOU

No fim da tarde desta quarta-feira (30), 48 horas após a tragédia, um vídeo viralizou na internet. Nele um caminhoneiro ferido mostra o interior da cabine do caminhão.

Olha aí como ficou o caminhão, estou aqui no cantinho que sobrou, mas estou vivo graças a Deus, tá tudo cheio de terra. Estou todo dolorido, ruim pra respirar, com a cabeça cortada, mas logo mais estarei em casa, se Deus quiser”, falou o sobrevivente em um vídeo gravado por ele.

A reportagem do JB Litoral confirmou que a vítima é José Altair, de 43 anos. O motorista foi resgatado, ainda na segunda-feira (28), e encaminhado pela Polícia Militar de Santa Catarina a hospital de Joinville (SC).

Veja o vídeo gravado pela vítima: