Litoral iluminado? saiba qual é o organismo que “brilha” nas águas da Ilha do Mel


Por Marinna Prota Publicado 23/07/2021 às 14h44 Atualizado 16/02/2024 às 08h10
litoral plancton

Um fenômeno que chama atenção em todo o mundo, mas que pode ser visto aqui, no litoral paranaense. A comunidade de plâncton, microrganismos que vivem na água, pode trazer a bioluminescência, fazendo com que a noite o mar e os rios tenham uma espécie de “iluminação própria”. Como o fenômeno não é tão facilmente encontrado, entrevistamos um especialista que conta curiosidades sobre este sistema de vida peculiar.

Luciano Fernandes, é professor e trabalha no Laboratório Ficologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ele conta que não há nada de anormal neste fenômeno, que é considerado por muitos “mágico”. “O plâncton é a comunidade de organismos geralmente microscópicos, mas muitos são visíveis a olho nu. Ela vive suspensa no ambiente aquático. Muitas espécies se locomovem, mas elas não vencem a força das correntes. No litoral do Paraná existem centenas de milhares de espécies“, detalhou.

Apesar de existirem em grande quantidade, a população só pode enxergá-los em certos momentos, quando estão mais próximos uns dos outros e acabam fazendo um volume possível de ver sem ajuda de equipamentos de aproximação microscópica. Uma turista comentou que durante o feriado de setembro, em 2015, chegou a andar por uma das praias da Ilha do Mel e se deparou com a água iluminada.

“Algumas espécies do fitoplâncton, especialmente os dinoflagelados, produzem o fenômeno da bioluminescência, que é a liberação de fótons de luz. Vários organismos, como insetos e vermes marinhos, também são capazes de realizá-la. No caso dos dinoflagelados, o principal estímulo para ocorrer bioluminescência é o movimento do mar, como as ondas. Por isso, muitas pessoas observam este belo fenômeno”, ressaltou o professor da UFPR.

litoral plancton
(foto: redes sociais/ @littledogladyx)

Quando ocorre a “temporada”?

Apesar da existência destes organismos durante o ano inteiro, a incidência maior deles acontece entre os meses de setembro e março, quando a temperatura do mar no litoral paranaense aumenta . “Em geral, é mais comum que o fenômeno da bioluminescência seja observado na primavera e verão, quando as águas estão mais quentes. Aproveite a vá tomar um banho noturno, mas sempre na companhia de alguém”, convidou o professor.

Algumas dicas para encontrar esse fenômeno tão diferenciado e próximo da mágica é procurar pela presença de plânctons luminosos na praia com as luzes de lanternas e celulares apagadas. Os olhos precisam se adaptar a escuridão e conseguem ver mais facilmente o efeito da bioluminescência. Como é preciso do movimento para que os organismos se “iluminem” é preciso observar as ondas quebrando e em caso de mar calmo, jogar uma pedra na água, pois caso o plâncton esteja lá, ele vai “brilhar” com uma luz azul.

Perigoso?

Por ser um espetáculo a parte, quando o assunto é a beira do mar à noite, o fenômeno causado pelo plâncton gera dúvida sobre a segurança de quem acaba entrando na água. “Esta comunidade é a principal fonte de alimento para os outros organismos. Há várias espécies que podem ser nocivas, e algumas produzem toxinas perigosas que são acumuladas por moluscos quando eles filtram as microalgas do fitoplâncton. A bioluminescência não tem qualquer efeito negativo e as pessoas podem banhar-se na água sem medo, mas algumas espécies produzem toxinas que, se ingeridas com frutos do mar, podem causar diarreias, afetar o sistema nervoso e até matar”, alertou Luciano Fernandes.

Por isso, áreas marinhas que sejam utilizadas para cultivo de moluscos e peixes, casos das baias de Paranaguá e Guaratuba, além de várias partes da costa paranaense em Matinhos, Pontal do Paraná, Antonina e Guaraqueçaba, precisam ser monitoradas quanto a presença de espécies nocivas do fitoplâncton e de toxinas acumuladas nos moluscos.

Por Marinna Protasiewytch