Mãe e filho vendem empadão nas ruas de Paranaguá para conseguir pagar tratamento de visão


Por Luiza Rampelotti Publicado 10/06/2022 às 12h08 Atualizado 17/02/2024 às 10h21

É comum conhecermos histórias de famílias que se mudam de uma cidade para outra em busca de melhores oportunidades de trabalho e de condições de vida. Esse é o caso de Glauciele Valéria dos Santos, que veio para Paranaguá há oito meses junto com seus dois filhos, um de 4 anos e outro de 12, além de seu marido.

Glauciele e a família moravam em Guarujá (SP), quando ela perdeu o emprego e decidiu vir para o litoral paranaense recomeçar. Aqui, ela começou a revender bombom, mas o trabalho informal não durou muito e, agora, está empreendendo também na área alimentícia; vendendo tortas e empadão que ela mesma faz.

Para comercializar os salgados, ela e o filho mais velho, Washington, batem de porta em porta nas lojas do centro da cidade. A situação chamou a atenção do empresário Kauan Montebeles Siebert, que decidiu tentar apoiar a família e contou a história da mãe e filho para o JB Litoral.

Tentamos auxiliar da forma que podemos, mas vimos que a ajuda que eles precisam está além do que conseguimos prover. Tenho um filho de seis anos e ver uma criança de 12 anos vendendo comida das 13h às 23h na rua com a mãe, em um dia chuvoso, é muito impactante”, diz.

Kauan é sócio proprietário da loja Viúva Negra Intimates e contou ao JB Litoral sobre a história de Glauciele e Washington. Foto: JB Litoral


Washington tem estrabismo e miopia


O JB Litoral procurou Glauciele e Washington, que conversaram com a equipe de reportagem sobre o dia a dia e as dificuldades que vêm enfrentando. “A gente veio pra cá trabalhar e tentar uma vida melhor. Comecei revendendo bombom, aconteceram algumas coisas e acabei ficando desempregada. Ainda bem que meu esposo está trabalhando fichado faz um mês, e agora estou procurando emprego, entregando currículo. Enquanto não acho, faço torta e saio para vender”, conta.

A principal necessidade da família diz respeito ao problema de visão do filho mais velho. Washington nasceu com estrabismo e miopia no olho esquerdo, e não enxerga muito bem. “Quando ele era bebê fez tratamento com tampão e óculos, que era grau 1.5 em uma vista e 2 na outra, assim que nasceu. Como ele era muito pequeno, começou a usar óculos com oito meses, mas não corrigiu muito, e o médico preferiu deixar ele crescer mais um pouco para voltar a usar. Quando completou dois anos, ele voltou com os óculos, mas o médico viu que não teria muita correção e preferiu colocá-lo na lista de espera de operação pelo SUS, isso em 2011”, diz a mãe.

Cirurgia de correção não resolveu 100%

Washington tem estrabismo e miopia e não enxerga muito bem. Ele deseja dar continuidade ao tratamento de visão.

Nove anos depois, em 2020, Washington foi chamado para operar os dois olhos. A mãe conta que a operação auxiliou na correção das vistas, mas não o suficiente, e o menino ainda tem problemas de visão. Com as dificuldades financeiras da família, eles vieram para Paranaguá no final de 2021 e, aqui, buscam ajuda para dar continuidade ao tratamento.

Foi por isso que comecei a vender os bombons, para ter uma renda e, principalmente, auxiliar no tratamento do Washington. Existem alguns exames que consegui fazer em Guarujá quando estava trabalhando e juntava algum dinheiro, mas o tempo vai passando e os exames ficam para trás, e toda vez temos que fazer novos”, comenta Glauciele.

Para retomar o tratamento com oftalmologista, Washington precisa saber qual o grau de sua visão no momento, já que desde 2020, após a cirurgia, os procedimentos foram parados. Para isso, eles pedem o apoio de algum profissional da cidade.

Tem dois anos que ele operou e o tratamento foi parado. A gente também queria saber se tem como fazer uma nova cirurgia para corrigir mais um pouco, porque ele sofre bullying na escola, nos cursos, onde ele anda”, lamenta a mãe.

Criança sofre bullying


Washington estuda no Colégio Estadual Professor Zilah dos Santos Batista, no Porto dos Padres. Ele conta que vê pouca coisa com o olho direito, o qual consegue enxergar de longe. Já com o esquerdo, tem mais dificuldades.

Queria fazer a cirurgia para deixar meus olhos certinhos e poder enxergar melhor. E porque fazem bullying comigo na escola, passo e eles olham para minha cara e dão risada. Esses dias fui ao mercado com a minha mãe, uma mulher estava estacionando o carro e a filha dela olhou para mim e deu risada, aí comentou um negócio com a mãe dela, que também começou a rir”, disse o menino.

A mãe conta que a situação triste e desrespeitosa a abala muito e, também, ao filho. “Eu quero fazer o melhor para ele, mas infelizmente estou desempregada. Meus filhos estão em primeiro lugar para mim. O Washington me ajuda muito, às vezes falo para ele ficar em casa enquanto eu vendo as tortas, mas ele sempre diz que quer vir comigo e ajudar. Ele é uma criança muito especial”, comenta. 

Doações


Hoje a família mora em uma casa de três cômodos, no bairro Estradinha. Mas conseguiram alugar uma residência um pouco maior na mesma região e logo estão se mudando. “A casa que a gente mora tem um quarto, uma cozinha e um banheiro. Agora consegui uma casa maiorzinha, pelo menos para o Washington ter seu cantinho para dormir, sua privacidade”, diz Glauciele.

Para a mudança, ela está aceitando doação de móveis usados como colchão, cama e guarda-roupa. “O que tiver para nos ajudar será bem-vindo. Não precisa ser novo, a gente não tem luxo, é bem humilde”, conclui.

Quem quiser ajudar a família pode entrar em contato com Glauciele através do telefone ou WhatsApp (13) 99188-4028.