Mães denunciam interrupção de acompanhamento psicológico prestado aos filhos, em Matinhos


Por Flávia Barros Publicado 20/11/2022 às 00h46 Atualizado 17/02/2024 às 22h00

Embora seja garantido por lei, só quem precisa de terapias, a exemplo de acompanhamento psicológico para os filhos, sabe a dificuldade que é para ter acesso aos profissionais da área, seja na rede pública ou em planos de saúde, como já noticiou o JB Litoral em outras ocasiões.

Esse é o transtorno denunciado por uma mãe em uma comunidade do Facebook, no último dia 3. Na postagem, Laricia Cleber afirmou que a psicoterapia do seu filho havia sido interrompida por falta de pagamento à empresa contratada pela Prefeitura de Matinhos.

Que triste, para festa tem verbas e meu filho precisando muito do tratamento foi interrompido pela segunda vez, se eu pudesse pagaria. Fazer o que, né? Além de chorar, porque não é fácil para uma mãe ver seu filho precisar de ajuda e não poder fazer nada, fico muito revoltada com isso. Muito triste pelo meu filho e as crianças que ficam a perecer sem tratamento. Não tem neurologista e agora as terapias também foram cortadas”, lamentou.

CORTE DE GASTOS

Além de escrever, a mãe postou um print da mensagem que teria recebido da profissional que vinha acompanhando o seu filho. “Bom dia! Fui comunicada hoje, pela empresa a qual presto serviços, que a prefeitura de Matinhos suspendeu os serviços de Psicologia e outras especialidades no município. Estão passando por cortes de gastos. O momento é muito difícil para o município, não foi informado por quanto tempo. Desta forma, venho informar o término imediato do meu contrato. Sinto muito por informar desta forma, porém, também fui recém-informada dos cortes. Para os pacientes que queiram seguir de forma particular os serviços, me coloco à disposição para fornecer mais informações. Att Evelyn Muller, Psicóloga”, mostrou a imagem em que a mãe teria sido informada da interrupção do tratamento, por meio do aplicativo WhatsApp.

OUTROS CASOS

Nos comentários da publicação, outros pais ratificaram a denúncia e afirmaram que seus filhos passam pela mesma situação.

Triste mesmo, porque o do meu filho também foi cortado. Revoltante esse descaso com a saúde”, disse outra mãe.

Já um pai relatou outro corte que teria relação com falta de pagamento. “O neuro da educação… não pagaram o salário dele. Pediu para sair e até hoje não contrataram outro, faz um ano já”.

Comentário que foi respondido por uma outra mãe. “Pois é, tiveram dois que conheci, um deles atendeu minha filha e o outro paguei uma consulta em Paranaguá, pois eles não falam para a gente porque cortaram o profissional. O pior é que minha filha teve crises horríveis de ansiedade, depressão, entre outras coisas. Faz dois anos que precisa, pois teve o pedido feito pela professora da escola, mas ainda não foi chamada para o psicólogo. Até o conselho tutelar enviou para o CAPS”, desabafou.

NECESSIDADE X JOGO DE EMPURRA

O JB Litoral conversou com a mãe que fez a denúncia. Ela explicou que a interrupção veio pouco após o começo da psicoterapia, aguardada por sete meses. “Meu filho tem sete anos e vinha fazendo acompanhamento em Mato Grosso. Aqui eu lutava desde abril, quando finalmente consegui, com muita insistência. Agora em novembro ele foi encaminhado pela escola e pelo neuropediatra. Ele foi vítima de sequestro pelo pai e foi feito refém durante oito horas, quando foi localizado pela polícia e tem diagnóstico de autismo pelo neuro que solicitou a avaliação psicológica devido aos traumas que passou. Aí fui informada pela psicóloga sobre o fim do contrato com o Centro de Especialidades. Porém, após a minha publicação, fui procurada pela própria psicóloga dizendo que foi encerrado com a Prefeitura, e que era para eu tentar encaixá-lo pelo CAPS. Não entendi mais nada, pois ambos são pela Prefeitura”, disse Laricia Cleber.

O QUE DIZ O CISLIPA

O Consórcio Intermunicipal de Saúde do Litoral do Paraná (CISLIPA) confirmou que a profissional que consta na publicação da rede social presta serviço para empresa credenciada no CISLIPA. “Essa empresa presta serviço para o Município de Matinhos, sob demanda da secretaria municipal de Saúde e os atendimentos estão retornando, pois em nenhum momento foi feito corte da equipe de psicologia”, disse ao JB Litoral o diretor executivo do CISLIPA, André Luís da Costa Pereira, que pediu explicações à administração de Matinhos e aguarda retorno.

PREFEITURA NEGA

Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Matinhos negou os cortes. “A secretaria da Saúde desconhece qualquer informação acerca da descontinuidade do atendimento psicológico, quer seja de adultos, quer de crianças. A pasta mantém atendimento à saúde mental, tanto no Centro de Atenção Psicossocial – CAPS, que conta com um médico psiquiatra e um psicólogo, e também no Centro Municipal de Especialidades, com dois psicólogos, sendo a Dra. Isabela Simas da Silva Rocha para atendimento à população através de consultas agendadas pelo ambulatório de saúde mental, e a Dra. Denise Molina, para atendimento de servidores do Município, tanto na parte de acompanhamento funcional quanto para exames admissionais e demissionais”, afirmou a assessoria de comunicação da cidade, por meio de nota.