O sonho de empreender: jovens contam como têm se saído sendo donos do próprio negócio


Por Luiza Rampelotti Publicado 28/05/2022 às 19h04 Atualizado 17/02/2024 às 09h30

Abrir uma loja ou um bar, investir em gastronomia, moda, sustentabilidade, dar forma a uma ideia através de uma startup, são apenas algumas iniciativas criativas que, se tiradas do papel, podem dar muito certo. Pensamentos como esses borbulham entre os jovens brasileiros que desejam abrir o próprio negócio e mudar o estilo de vida.

Não é à toa que o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) e o Sebrae descobriram, por meio de um levantamento, que empreender é o 4º maior sonho entre os brasileiros. Prova disso é que a taxa de empreendedores individuais formalizados cresceu 19,8% em 2021, em relação a 2020.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), esse aumento não tem sido decorrente apenas pela pandemia, mas tem se firmado como uma tendência nos últimos cinco anos. No entanto, diferentemente do que muitos pensam, empreender não significa apenas abrir o próprio negócio.

Para ter sucesso, é necessária uma mudança de estilo de vida, além de uma chamada de responsabilidade para si mesmo. É ter criatividade diante do inesperado e paciência quando as coisas saem do controle. Ser empreendedor exige estar disposto a desenvolver constantemente aspectos como resiliência, flexibilidade, dinamismo…

Mas as vantagens também podem ser muitas, como a autonomia, liberdade para decidir com quem trabalhar e em quais horários. A principal delas é poder trabalhar com o que gosta ou naquilo que acredita. Tudo isso quem diz são os seis jovens empreendedores parnanguaras entrevistados pelo JB Litoral. A seguir, eles comentam sobre o caminho percorrido para a abertura do próprio negócio e como têm se saído como “patrões”.

Queen’s Pub

Renato de Brito, de 35 anos, inaugurou o Queen’s Pub em 26 de fevereiro de 2020. Ele conta que sempre teve vontade de empreender e já chegou a se arriscar em uma marca de roupa, lá em 2008.

Renato abriu o Queen’s em 2020, por sentir falta de um ambiente que tivesse uma proposta musical diferente. Lá, não toca pagode, funk e nem sertanejo. Foto: Divulgação

Anos depois, me mudei para o Rio para trabalhar no bar do meu irmão e vi de perto como era o funcionamento de tudo. Peguei ainda mais gosto pela coisa e decidimos, em parceria com meus sócios Ana Clara e Bernardo Foes, abrir o Queen’s Pub”, diz.

Para Renato, conquistar moral no início do empreendimento foi a maior dificuldade, mas ele garante que é possível alcançar trabalhando duro e fazendo sempre o certo. “Estamos em uma forte crescente. Sentimos que, a cada mês, o fluxo está aumentando e sabemos da nossa responsabilidade perante a isso. Dentro do ramo, somos quase únicos na cidade, e a vontade de fazer mais é grande”, conta.

A proposta do Queen’s é voltada para a música e esporte. No local, que fica na rua Visconde de Nácar, 586, Centro Histórico, há uma sala com sofá e televisão, onde são transmitidas várias modalidades esportivas.

No cenário musical, o estilo alternativo predomina. “Na verdade, só é dito alternativo porque não é popular como o sertanejo, funk e pagode, que são gêneros que não tocamos no Queen’s. Essa escolha foi feita por questão de proposta, já que todas as outras casas tocam esses estilos e, portanto, não queremos ser mais um em meio aos outros. Tocamos de tudo, desde rap, hip hop, rock, reggae, R&B, jazz, bossa e MPB… E a sociedade só tem a ganhar com isso, pois se encontra limitada culturalmente devido à falta de opções que diferem do que já se vê tanto por aí”, explica Renato.

Ele comenta que, apesar de o público que gosta da proposta do pub ser bem acolhedor, ainda vê muitos “olhares fechados” para o que não é tão popular. “Vejo com naturalidade essa situação, pois realmente é difícil se desgarrar do que foi empurrado goela abaixo por anos. Mas temos muito o que agregar, temos feito a nossa parte, levando um tanto de cultura e vida inteligente nesse meio noturno, que costuma ser tão raso em nossa cidade”, finaliza.

Mares Food & Bar


Rene Sivek Ainati, de 27 anos, e Renan Miquilini, de 28, abriram o Mares Food & Bar em 22 de fevereiro de 2019. Eles contam que desde muito cedo tinham o desejo de terem o próprio negócio. “Até rolou uma ideia com os amigos de fazer uma balada, mas deixamos pra lá”, dizem.

Com uma localização privilegiada, em frente ao rio Itiberê, na rua Benjamin Constant, nº 889, o empreendimento é muito frequentado, principalmente por jovens. Para conquistar e manter o sucesso do local, Rene e Renan contam que estudaram bastante e, por isso, houve muito planejamento antes de abrir o empreendimento.

Ao iniciar a ideia do que seria o Mares, vi uma necessidade imensa desse estilo de bar que faltava na cidade, então planejei cada detalhe para executar da melhor maneira. A aceitação do público foi super positiva desde o começo e, com o tempo, apenas fomos mantendo nosso padrão de qualidade e conseguindo atingir um público ainda maior”, conta Rene.

Rene Ainati e Renan Miquilini abriram o Mares Food & Bar em fevereiro de 2019. O empreendimento é reconhecido pelos jovens como ponto de encontro. Foto: Divulgação

No entanto, ele revela que as maiores dificuldades são encontradas no dia a dia. “A gente inicia um negócio achando que ‘sabe de tudo’, porém, o maior aprendizado vem, realmente, na prática”, avalia.

Os rapazes comentam que nunca sequer pensaram em desistir da ideia de empreender. “Sempre soube que era aqui, em Paranaguá, que gostaria de fazer algo. A cidade precisava de algo novo na parte noturna, e acreditei desde o início que o Mares daria certo”, concluem.

Ubá Vegano


O Ubá Vegano é bem novinho, foi recém-inaugurado, em 21 de fevereiro, pela Laís Araújo Leite, de 28 anos. “A vontade de empreender começou quando concluí a faculdade e me vi desempregada. Então surgiu a ideia de produzir alimentos congelados de forma artesanal, coloquei em prática e deu muito certo”, conta.

Ela, que é vegana, diz que abrir um local totalmente vegano na cidade era um sonho que se tornou realidade. “A Ubá é o primeiro estabelecimento vegano de Paranaguá, um marco na história do veganismo no município e um passo importante para o desenvolvimento da nossa cidade. Foi idealizar a realização de um sonho que me fez persistir”, comenta.

Antes de abrir o espaço físico, na avenida Roque Vernalha, nº 13, Eldorado, Laís vendia os alimentos por entrega e retirada. A aceitação foi tão boa, que foi preciso um local que atendesse a demanda. “A Ubá só chegou aonde está pelo apoio e acolhimento dos parnanguaras”, destaca.

Apesar de ser um estabelecimento vegano, Laís diz que o Ubá é para todos, não apenas para veganos e vegetarianos. “É para todo mundo que procura se alimentar de maneira consciente. Também atendemos pessoas com intolerância à lactose. É um espaço bem plural, que busca unir todos em um só lugar, com comida boa e de qualidade”, finaliza.

Quadra Burguer


Rafael e Carolina Meira, de 26 e 28 anos, inauguraram a Quadra Burguer em 2019. Rafael sempre gostou muito de cozinhar e Carol é apaixonada por eventos culturais. “Com tempo livre e depois de juntar dinheiro, as oportunidades foram acontecendo e decidimos juntar as paixões e criar a Quadra”, contam.

A aceitação do público começou a acontecer no final de 2021, revela Carol. “A Quadra existe há mais de três anos e, ainda assim, foi no final do ano passado que a população começou a nos reconhecer como um novo ponto de socialização. O público passou a entender como um ambiente confortável para se sentir à vontade com você mesmo, valorizar a escolha da qualidade dos ingredientes e o atendimento personalizado”, diz.

Rafael e Carolina Meira inauguraram o Quadra Burguer em 2019. Hoje, o lugar é conhecido como a “casa dos artistas independentes do Litoral”. Foto: Divulgação

Para ela, é necessário que o Poder Público realize um trabalho de aproximação entre público e privado. “Existem muitos jovens com ideias boas para promover a cultura e movimentar economicamente a cidade. O que falta, de fato, é o incentivo por parte da prefeitura, o apoio aos pequenos negócios e artistas independentes, além da necessidade de simplificar as burocracias no sentido de criação de eventos e uso do espaço público”, opina.

Apesar de, por conta da pandemia, a Quadra, que fica na Rua da Praia, quase ter fechado as portas, Carol conta que persistiu na ideia e não se arrepende. “Saber da qualidade dos nossos produtos, acreditar no atendimento humano, caloroso e ter o sonho de fazer um ambiente diferente em Paranaguá foi o que nos motivou”.

Com isso, o estabelecimento passou a ser o ponto de encontro de artistas independentes e logo ficou conhecida como a “casa dos artistas do Litoral”. “Queríamos promover uma cena em que artistas independentes pudessem apresentar o seu trabalho, em todas as artes – música, teatro, dança, visual. Passamos a ser o ponto inicial de alguns artistas e nosso objetivo é, além de servir uma opção muito saborosa de lanche por um preço justo, ser a casa dos artistas”, finaliza.

Empadas da Tati


Diferente dos empreendimentos anteriores, Tatiane Rosa Rodrigues, de 29 anos, ainda não tem um espaço físico para o seu Empadas da Tati, aberto em fevereiro deste ano. A decisão de empreender aconteceu há 9 anos, junto ao marido, quando ficaram desempregados.

Quando perdemos o emprego, surgiu a oportunidade e necessidade de criar uma nova fonte de renda e, desde então, começamos a pôr em prática um pouco daquilo que conhecíamos melhor, que é o ramo da alimentação”, diz.

Tatiane conta que é a primeira a vender empadas doces e salgadas na cidade e recebe, em média, 300 pedidos por dia, que podem ser feitos pelo WhatsApp (41) 98502-4627. São opções comuns, como a tradicional empada de frango, e gourmetizadas, como a de morangoff, por exemplo.

Tatiane Rodrigues empreende há nove anos e, neste ano, abriu o Empadas da Tati, que ainda não tem espaço físico. Foto: Divulgação

No entanto, ela ainda encontra muita dificuldade para expandir o seu negócio. “A maior dificuldade de empreender e ser jovem é conseguir recursos para montar de imediato uma empresa física, pois sendo jovem, muitas vezes não temos possibilidade de conseguir empréstimos ou financiamentos para aquisição de maquinários e equipamentos necessários na fabricação dos produtos”, comenta.

Por isso, Tatiane avalia que o ideal para que os jovens empreendedores conseguissem tirar suas ideias do papel, seria a abertura de uma linha de crédito especial para aqueles que querem começar a empreender, com a criação de um órgão que os escute e incentive. “Ao longo desses 9 anos, não apenas pensei, como já desisti algumas vezes, por conta de alguns erros ou, talvez, por não ter um produto atrativo. Mas cada desistência só meu deu mais força e aprendizado para colocar outras ideias em prática”, finaliza.  

Thainá Hengel começou a vender roupas pela internet e em 2020 conseguiu abrir sua loja física. Foto: Divulgação

Hengel Modas

Thainá Hengel, de 27 anos, abriu sua loja de roupas, a Hengel Modas, em um espaço físico no dia 17 de junho de 2020. Ela começou a empreender no ramo em 2018, quando passou a viajar para comprar roupas femininas para revender, divulgar nas redes sociais e entregar os produtos vendidos de porta em porta. “Tudo isso começou em virtude do desemprego e a falta de oportunidade na área em que sou formada como gestora de turismo”, conta.

Ela conta que, com a proposta de moda jovem e de qualidade, “look das blogueiras”, e com um preço acessível, logo aumentou a quantidade de clientes. “No começo, tive medo, mas o medo é um dos maiores inimigos do empreendedor. Temos medo de arriscar, de investir e não dar certo. Mas é aquele ditado: ‘vai, e se der medo, vai com medo mesmo’. Então nunca pensei em desistir, sempre lutei para que meu negócio continue dando certo”, diz.

A Hengel Modas, que fica na Rua Quinze de Novembro, nº 358, Centro Histórico, nasceu na internet, começou com vendas de porta em porta e, após três anos, abriu seu espaço físico. “Eu e meu marido, o qual é meu braço direito e me apoia em tudo, lutamos muito para que nosso sonho desse certo. Com amor, tudo dá certo”, conclui.