Vendaval danifica trapiche; moradores questionam materiais, mas porto atesta qualidade


Por Redação JB Litoral Publicado 17/03/2021 às 19h15 Atualizado 15/02/2024 às 20h59

Por Katia Brembatti

Ventos fortes, registrados na Ilha do Mel, na terça-feira (9), causaram danos no trapiche de Encantadas, que está em obras. Um pilar entortou e parte da cobertura cedeu, atingindo barcos próximos. Não houve registro de feridos, mas a situação motivou reclamações de barqueiros e moradores, preocupados com riscos aos usuários. Funcionários da empresa pública Portos do Paraná, que financia a obra, e da construtora foram ao local para avaliar os estragos e iniciar os reparos.

A edição anterior do JB Litoral trouxe uma reportagem sobre barcos irregularmente atracados nos trapiches de Encantadas e Nova Brasília, que teriam causado danos nas estruturas que ainda nem foram inauguradas. A divulgação, aliada às consequências do vendaval, levou moradores a procurarem o jornal para questionar a condução das obras e a qualidade dos materiais usados. O porto, por sua vez, declarou que a prioridade foi pelo uso de produtos duráveis e que o que houve, na semana que passou, foi um caso isolado, que permitiu identificar e consertar problemas, substituindo peças. 

O diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia da Silva, comentou que os ventos registrados foram de 60 km/h, com picos de 80 km/h, e que as avarias foram consideradas pequenas. “Começou com uma cantoneira que não aguentou, o pilar se deslocou e isso fez com que saísse uma parte da cobertura. Foi um efeito em cascata”, disse. Ele reconheceu que os trapiches devem estar preparados para aguentar rajadas ainda mais intensas, mas nega que tenham sido usados produtos de má qualidade. “Tem muitas peças de inox, mas essas cantoneiras não eram. Então, estão sendo trocadas por esse material”, contou. Luiz Fernando ainda enfatizou que o trapiche de Nova Brasília, feito de forma semelhante, não teve problemas.

Reclamações

Depois da reportagem sobre barcos atracados irregularmente nos trapiches e dos estragos causados pelo vendaval, vários moradores procuraram o JB Litoral, descontentes, alegando que estavam sendo injustamente responsabilizados por problemas nas obras, incluindo o atraso da entrega. Alguns aceitaram comentar o assunto, mas não quiseram fazer depoimentos. Entretanto, Felipe Andrews, secretário da Associação dos Nativos da Ilha do Mel (Animpo), está entre os que concordaram em se posicionar publicamente, em nome da comunidade.

Barcos e lanchas não podem ficar mais de 60 minutos atracados junto ao trapiche

Ele afirma que a população local foi consultada, na fase de pré-projeto, para apresentar indicações de como as obras deveriam ser feitas, mas não tiveram chance de acompanhar as decisões e os desdobramentos. “Mostramos todas as nossas necessidades, como que tinha que ser, o que que tinha que fazer”, diz. Para o marinheiro – que tem boa parte da família, como pai e irmão, ligada à atividade no mar –, não foi aproveitada a experiência de quem usa o trapiche e que poderia contribuir para apontar soluções.

Sobre o trapiche de Nova Brasília, ele disse que entre os pedidos feitos estava a acessibilidade, uma estrutura mais longa, em formato de Y, e que fosse de concreto. “Pedimos a dragagem, mas não ficou bacana. Foi feito só no meio do canal e assoreou em alguns pontos. Onde a gente deixava os barcos agora não dá mais. As grades ficaram pequenas, com buracos, e turistas podem se machucar. Para andar, também ficou ruim. O material é áspero”, conta.

Andrews avalia que o vento que causou estragos foi mediano e que o trapiche de Encantadas deveria aguentar muito mais. E acredita que a localização das luminárias na lateral dos trapiches é inadequada. “Deveria ser feito para barco encostar. Ok, não é para deixar atracado, mas precisaria resistir até a embarcações maiores, de 150 pessoas, mas está quebrando com barquinho de 10 passageiros”, pondera.

Por fim, lamenta a sequência de dificuldades encontradas pelos moradores e visitantes. “A gente pediu que fosse um trapiche que durasse, né? Porque geralmente os trapiches que fazem aqui na Ilha do Mel duram um ano, dois, três anos no máximo. Depois tem que fazer uma nova reforma e o trapiche fica abandonado por cinco anos”, analisa.

Pontos de vista

O marinheiro Juliano Agostinho, que faz passeios turísticos na Ilha do Mel, contou que estava no trapiche de Encantadas quando um pedaço da cobertura cedeu. “O telhado saiu na minha frente, voando. Se pegasse em alguém poderia até matar”, acredita. Segundo ele, desde o início da obra, os moradores locais alertavam que a estrutura parecia frágil. Jojuba, como é conhecido, citou também a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), sobre a anuência de populações nativas em caso de obras.

Daniel Anzoategui, presidente da Associação dos Barqueiros da Baía Norte do Litoral do Paraná (Abaline), disse que foi informado sobre a análise dos danos e também a respeito dos reparos que estão sendo feitos, para permitir que os trapiches sejam inaugurados em breve.

Ele destacou, ainda, o trabalho de todos os envolvidos nas melhorias que estão sendo executadas, já que, por anos, a comunidade teve de lidar com uma estrutura precária, que colocava as pessoas em risco. Espera, também, mais visitantes na Ilha do Mel, informando que está seguindo os protocolos de segurança para a prevenção da Covid-19.

As obras de reforma e melhoria nos dois trapiches estão sendo custeadas pela empresa pública Portos do Paraná, como compensação ambiental pela dragagem de aprofundamento. O investimento nos dois trapiches foi de R$ 9,5 milhões e o trabalho começou há um ano. Mais de 90% da obra já foi executada e a previsão é de que seja concluída ainda em março. Até agora, não foi definido se haverá inauguração.