Com R$ 6 milhões em dívidas, Rio Branco perde Estradinha e participação na 2ª divisão ainda é incerta


Por Flávia Barros Publicado 25/09/2023 às 20h57 Atualizado 19/02/2024 às 00h42
Estradinha era a casa do Rio Branco desde 12 de junho de 1927, quando foi inaugurado em um amistoso com o Clube Athletico Paranaense. Foto: Assessoria de Imprensa

Prestes a completar 110 anos, o Leão não será mais o da Estradinha, casa do clube há 96 anos. Isso porque o estádio Nelson Medrado Dias foi arrematado em leilão realizado nesta segunda-feira (25), por quase R$ 18 milhões. Após a finalização dos trâmites da transação comercial, que incluem a homologação do processo, a Rede Condor passará a ser proprietária da área.

Horas após o leilão, no final da tarde, a diretoria do Rio Branco conversou com a imprensa. O presidente do time, Alex Jacomel, explicou que, nos últimos 10 anos, o Leão teve dívidas que chegaram a aproximadamente R$ 6 milhões, o que fez com que o estádio fosse a leilão.

Como cidadãos ficamos chateados, mas deixo registrado que, desde que assumimos, fizemos diversas tentativas de arrecadar recursos para que isso não ocorresse”, disse Jacomel.

O presidente também exemplificou os fatores que contribuíram para que a dívida aumentasse.

Nós entendemos que as gestões anteriores acabaram assumindo compromissos além da conta, que não condizem com a realidade do futebol, e que não conseguiam arcar. Fizemos um levantamento de 2014 a 2019, foram diversas ações trabalhistas, mais de 50 processos, fora a área cível e com o próprio município”, detalhou.

Como se sustenta o Leão

Alex Jacomel também fez questão de agradecer o apoio das empresas que fazem o time seguir em frente e garante: a equipe continua viva.

O Rio Branco nunca sobreviveu com patrocinadores, de venda de camisa, nada. Se não fosse alguns empresários abraçarem o clube, o que aconteceu hoje poderia ter sido bem antes. Nos últimos 10 anos o investimento aumentou consideravelmente”, afirmou.

Independente de termos perdido a nossa casa, o Rio Branco continua vivo, e independente de termos sido rebaixados para segunda divisão, o clube continua em atividade. Hoje temos em torno de 80 profissionais que sobrevivem dessa atividade. Então, mesmo perdendo a nossa casa, nosso time vai continuar existindo, porque tem pessoas dispostas a fazerem a imagem do clube continuar viva”, completou o presidente.

Incerteza para o Paranaense

Sobre a participação do Rio Branco no Campeonato Paranaense da segunda divisão, Jacomel explicou que depende da regularização das pendências existentes no Estádio Municipal Fernando Charbub Farah, o Caranguejão.

Por mais que tenha aberto um precedente para o time ser autossustentável, que tenhamos um estádio municipal, é dever do poder público o disponibilizar para treino e ser legalizado para o Rio Branco indicar ele em seus jogos. O Caranguejão está com os laudos vencidos, e como teríamos acabado de assumir, não teríamos tempo hábil para renovar os laudos na época que assumirmos”, disse.

O presidente também falou sobre a possibilidade de o clube só “entregar a casa” no final do ano.

Nós precisamos refazer o planejamento porque precisamos de um centro de treinamento. Temos cerca de 80 atletas e estamos vendo a possibilidade de entregar a estrutura até o final do ano para ter recursos e uma casa, então nossa participação na segunda divisão ainda é incerta”, explicou Jacomel.

Como ajudar o clube

O presidente convocou os torcedores a se associarem para ter uma alternativa a mais de recursos. “Por mais que tenha acontecido a proposta, ainda não foi homologada, não sabemos se estará disponível ainda neste ano [a entrada do valor a ser pago pelo Condor]. Então, não vamos contar com algo que não é uma realidade. O Rio Branco foi criado como uma associação, era para termos associados. Hoje temos dívidas mensais de R$ 25 mil, se tivéssemos 250 sócios pagando R$ 100 por mês não precisaríamos ter passado por essa situação”, afirmou o presidente. 

Em 13 de outubro será aniversário de 110 anos do Rio Branco. Durante a coletiva de imprensa foi revelado que será disponibilizada uma plataforma para que o torcedor possa se associar. “Não apenas para adquirir a camiseta comemorativa, mas para se tornar um sócio, que será parte da história do time”, finalizou Alex Jacomel.

O arremate


O valor do arremate foi R$ 17.918.305,00, 50% do valor inicial da avaliação. O leilão inicial aconteceu no dia 11 deste mês, no valor de R$ 35.836.610,00, mas não foi arrematado.

O advogado Bruno El Kadri (à esquerda) e o presidente do clube, Alex Jacomel (à direita), esclareceram a situação à imprensa. Foto: Reprodução

O advogado do clube, Bruno El Kadri, detalhou como será feito o pagamento pelo estádio.

Será uma entrada de 25%, pago diretamente no processo trabalhista, e o valor restante será pago em 30 parcelas. O arremate não foi homologado ainda na Justiça. Depois dele, ainda é necessário haver uma comunicação oficial para desocupar o estádio. Vamos tentar uma negociação para ficar lá até o final do ano”, disse El Kadri.

Sobre quanto restará para o clube após o pagamento das dívidas, o advogado disse que ainda não é possível saber.

Ainda não há um valor total da dívida, porque será calculada. Mas, após o pagamento dela, o restante do valor será destinado ao clube”, completou Bruno.

A pergunta que não quer calar: o que será feito no local do Estradinha?

Após o arremate da área, o JB Litoral procurou a Rede Condor, para saber o que será feito no local e quando a empresa assumirá a área. A resposta veio por meio de nota, confira na íntegra:

Em respeito à comunidade de Paranaguá e à imprensa, o Grupo Zonta confirma que fez uma proposta para arrematar o terreno da Rua Coronel Elisio Pereira. A proposta ainda aguarda a análise do juiz responsável pelo processo de leilão da área.

O Grupo vai se pronunciar após a conclusão de todos os trâmites legais e estudos de viabilidade que apontem qual é o melhor modelo de empreendimento para a comunidade local”, disse o comunicado.