Mãe denuncia que filho autista, de 5 anos, foi agredido duas vezes por professores da APAE, em Paranaguá


Por Luiza Rampelotti Publicado 25/02/2022 às 08h34 Atualizado 17/02/2024 às 02h36

Mariane Berlim, mãe de Bento, 5 anos, encontrou nas redes sociais um espaço para desabafar sobre uma situação um tanto quanto delicada. Ela conta que seu filho autista, que estuda na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), de Paranaguá, há 4 anos, foi agredido por um professor de educação física.  

Segundo a mãe, tudo começou na sexta-feira (11), quando sua companheira foi buscar a criança na escola e, ao chegar, ouviu o professor dizendo em um tom de voz alto: “Senta, Bento”. Ao que o aluno respondia: “Não quero sentar”.

“O Bento se recusava a sentar e o professor continuava sendo grosseiro, até que, em determinado momento, minha companheira o ouviu chorar. Quando eles chegaram em casa, fui atender meu filho, trocar sua roupa, e percebi que ele estava todo marcado”, conta Mariane.

Após observar as marcas no corpo do menino, ela afirma que tirou fotos e encaminhou à pedagoga da instituição, por meio de um aplicativo de mensagens. “Conversei com ela e a mesma disse que na próxima segunda-feira (14) nós resolveríamos”, diz.

Porém, o que a mãe não esperava, era ouvir que a culpa pela situação seria de seu filho. “Ao chegar na escola, na segunda-feira, houve uma reunião entre mim, minha companheira, a pedagoga e o professor que causou as marcas. A primeira coisa que falaram foi a seguinte: você sabe o quanto o seu filho é difícil”, relembra.

A mãe clama por justiça e afirma que não vai se calar diante deste caso. Foto: Diogo Monteiro/JB Litoral


“Um pouco mais de força”


Ao longo da reunião, ela comenta que o professor de educação física tentou explicar o que aconteceu. “Ele tem 38 anos e não sei se é habilitado para a função, se tem especialização, mas é um professor novo do Bento, que estava na primeira semana de aula. Esse educador disse que teve uma aula maravilhosa com os alunos e queria encerrá-la com todos sentados, mas meu filho não queria sentar-se. Então, ele foi colocá-lo sentado, e foi quando o Bento se jogou no chão”, diz.

Mariane continua dizendo que o professor declara que foi levantar a criança do chão e colocá-la sentada e, para isso, segurou os braços e as pernas do menino. “Nisso, ele fala que usou um pouco mais de força e deixou meu filho todo roxo”, lamenta.

Ela também afirma que, durante a reunião, outra professora chegou a insinuar que a APAE não é o local adequado para seu filho e, ainda, que a pedagoga declarou que a única coisa que poderiam fazer seria pedir desculpas. “Depois disso, a pedagoga disse: ‘aí você vê o que faz, se vai prestar queixa, fazer um Boletim de Ocorrência ou postar nas redes sociais’. Eu saí da escola e fui direto para a delegacia”, diz a mãe.


Sem imagens das câmeras


Na mesma segunda-feira, Mariane comenta que registrou um Boletim de Ocorrência contra a instituição, na Delegacia Cidadã. “Me senti desamparada. Essas coisas acontecem em todos os locais, sempre vai haver um profissional que age de maneira errada, mas, o mínimo que esperamos é que existam as correções para que isso não se repita. Eu só esperava que a escola tomasse uma atitude, aplicasse uma advertência ao professor, mas me trataram com descaso”.

A mãe também solicitou à pedagoga as imagens das câmeras da APAE, que possui os equipamentos nas salas de aula. No entanto, foi informada que as câmeras estariam estragadas ou que as imagens expiraram. “Pedi as imagens e ela me disse que daria. Mas, na terça, ela me respondeu que não seria possível. Então comecei a denunciar o caso nas redes sociais”, diz.


Não é a primeira vez


A mãe afirma não ser a primeira vez que o filho sofre agressão por parte de professores na instituição. “Já é a segunda vez, a primeira foi pouco antes das férias, no ano passado. Na ocasião, uma professora acabou unhando meu filho, e também tenho fotos. Ela disse que foi impedir que o Bento se jogasse e acabou deixando várias marcas de unha”.

Nesse momento, também houve uma reunião entre a família e a escola. “Na primeira agressão eles me fizeram acreditar que a culpa era do meu filho. Mas eu não posso mais permitir que isso aconteça”, se revolta.

Mariane relembra que, já no ano passado, alguns professores disseram que a APAE não era o lugar de Bento. “Mas se ali não é lugar dele, onde é? A APAE é a única escola que atende crianças especiais na cidade. Por isso que todas as mães que passam por situações parecidas se calam, porque elas não têm onde deixar os seus filhos. Porém não irei mais me calar”, afirma.

Agora o menino segue sem os cuidados apropriados oferecidos por uma instituição de ensino especializada em atender crianças com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). “Tive que tirar meu filho de lá, estou levando-o comigo para todo lugar. E neste ano estávamos muito felizes, porque ele havia amado uma professora nova; acordava pedindo para ir à escola. Mas não sinto segurança nenhuma na APAE, e se não temos segurança lá, que é uma escola específica para atender crianças especiais, onde teremos?”, questiona a mãe.

“Vou denunciar em qualquer lugar”


Ela afirma que realizou denúncias sobre a situação ao Ministério Público do Paraná (MPPR), Federação Nacional das APAES, Federação das APAES do Paraná, senador Flávio Arns, prefeitura de Paranaguá, Câmara de Vereadores e secretaria municipal de Educação.

O JB Litoral solicitou o número de protocolo das denúncias, porém, Mariane diz que a orientação de seu advogado é para que não informe.

“Eu vou fazer denúncia em qualquer lugar, onde tiver irei me manifestar. Quero justiça. O professor continua lá, dando aula como se nada tivesse acontecido. Espero que o Bento tenha sido o último, porque outras crianças já passaram pela mesma situação. Mas, se ele for o último, não tem problema, pois espero que nenhuma outra criança passe por isso”, conclui a mãe. 

APAE não se manifesta


O JB Litoral procurou a diretora da APAE, Cláudia Valéria Kossatz Lopes e Silva, para questionar a respeito do caso. No entanto, ela afirmou que a instituição só irá se manifestar por meio de seu departamento jurídico, quando houver aval dos advogados.