SPU pedirá devolução do Caranguejão, Piscina e Câmara Municipal de Paranaguá
Conquista ocorrida na gestão do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a cessão de aforamento das áreas ribeirinhas feita pela União a todos os municípios do país, em Paranaguá, foi desperdiçada por incompetência das três últimas gestões, que perderam prazos, não souberam usar recursos e resultou no fim do aforamento das áreas da União ainda não regularizadas.
No caso da Ilha dos Valadares a cessão ocorreu por meio de Medida Provisória, a partir de 2010, e se consolidou conforme Contrato firmado com a União, no dia 17 de dezembro de 2012.
Entretanto, apesar de o contrato prever diversas obrigações, a partir de 2010, entre elas a implantação do Projeto de Regularização Fundiária com definição da Planta Geral de Valores (PGV), o Prefeito José Baka Filho (PDT) investiu na maquiagem política e chegou a ponto de fazer a entrega para 15 famílias, de títulos de posse, assinados por ele, pelo Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Paulo Bernardo, e pelo Superintendente do Patrimônio da União no Paraná, Dinarte Antônio Vaz, em fevereiro de 2010, mesmo ciente de que o processo de regularização levaria cerca de quatro anos para ser concluído.
Os documentos, sem nenhuma validade, foram entregues em solenidade realizada na Praça Cyro Abalem e contou com a presença do Senador Osmar Dias, dos Deputados Federais Ângelo Vanhoni (PT) e Wilson Picler (PDT), a Presidente Estadual do PT no Paraná, Gleisi Hoffmann, o Secretário Estadual de Meio Ambiente, Rasca Rodrigues (PODEMOS), o Vice-prefeito Fabiano Elias (PPS) e o Presidente da Câmara, Vereador Antônio Ricardo dos Santos (PP). Na época, o Ministro alertou que o convênio firmado com a Prefeitura permitiria, num prazo de três anos, que o município transferisse a propriedade definitiva aos moradores. “O terreno será do morador, e ele poderá até vender, caso queira”, completou Paulo Bernardo.
Zoneamento era para 2010
Nesta solenidade ainda, o Prefeito Baka Filho assegurou que o processo de zoneamento da ilha começaria naquele mesmo ano (2010). “Antes não podíamos fazer porque a ilha não pertencia ao município. Agora, vamos fazer, porque a população merece”, destacou o administrador municipal.
Pouco mais de um ano, em nova solenidade no mesmo local, foi assinado Termo de Cooperação Técnica entre o Serviço de Patrimônio da União (SPU) e a Prefeitura, o qual permitiria iniciar cadastramento de todos os imóveis da localidade para depois haver emissão dos primeiros títulos de posse, previsto para o final de julho daquele ano (2011). O que não aconteceu.
Presente à solenidade, o Vereador José da Costa Leite Júnior (PR) ressaltou a conquista e anunciou que faria um Projeto de Lei concedendo o título de Cidadão Honorário ao Superintendente da SPU, Dinarte Antônio Vaz. Em 2012, o prefeito encerrou sua gestão sem dar continuidade ao Plano Diretor de Desenvolvimento Social/Ambiental/Econômico Ilha dos Valadares (PDDIV), que sequer foi apreciado pela Câmara de Vereadores. Uma empresa contratada para fazer a PGV apresentou diversos contratempos que impossibilitaram a continuidade do PDDIV.
Kersten retomou processo
Cobrado por lideranças comunitárias, desde o início de sua gestão, entre elas, a atual Presidente da Associação de Moradores da Ilha dos Valadares (AMIV), Mirian Mathias, o Prefeito Edison de Oliveira Kersten (MDB) retomou o processo e realizou, em janeiro de 2014, uma audiência pública no Complexo Esportivo Mário Lobo, para discutir o Plano Urbanístico e de Sustentabilidade do local. O prefeito destacou o desafio que seria resolver a questão fundiária do local e que a audiência seria justamente o primeiro passo no processo. Ele lembrou que outras administrações municipais prometeram resolver o problema, porém não o fizeram. Na apresentação do plano, realizada pela Arquiteta Fabiana Galesi, membro do Plano Urbanístico e da Sustentabilidade da Ilha, propôs várias soluções para os problemas da cidade. A audiência teve seus pontos fracos, como o fato de a Secretária de Urbanismo, Débora Ramos, não responder a nenhum questionamento em relação a sua pasta e a pouca participação da comunidade insulana. Porém, a partir desta audiência, o processo de regularização teve andamento, inclusive com a criação da Secretaria Municipal Extraordinária de Habitação e Assuntos Fundiários (SENHAF), que priorizou esta situação e começou a atender as exigências do contrato de cessão, o qual encerraria em dezembro de 2016.
Desentendimento entre MPPR e MPT
Na semana passada, a presidente da AMIV, acompanhada dos Vereadores Adriano Ramos (PHS), Jaime Ferreira dos Santos, o Jaime da Saúde (PSD), Gilson Marcondes (PV), Carlos Fangueiro (PPS) e Nóbrega e outras lideranças comunitárias participaram de uma reunião da SPU levando o problema da regularização da área ao Superintendente do Patrimônio da União no Paraná Jorge Luiz Moreira da Silva e à Chefe da Divisão de Destinação, Lucie Mara Pydd Winter.
A motivação foi a denúncia feita por Miriam Mathias ao Ministério Público do Paraná (MPPR) sobre a falta de empenho da prefeitura no processo. Porém, depois de dois anos analisando a situação, o MPPR, em julho de 2016, repassou a questão para o Ministério Público Federal (MPF), alegando ser de sua competência, por se tratar de área da União. Este, por sua vez, defendeu não fazer parte de sua atribuição o acompanhamento de regularização fundiária urbana e arquivou o processo, alegando não ter nenhuma irregularidade.
Gestão atual parou o processo
Na reunião vereadores e lideranças comunitárias tiveram a confirmação, pelo SPU, de que o aforamento na Ilha dos Valadares foi perdido pelo município a partir de 2017, porque a gestão do Prefeito Marcelo Elias Roque (PODEMOS) interrompeu o processo que vinha sendo feito pela administração anterior. De acordo com a letra “a” da Clausula 9ª do Contrato de Cessão, o imóvel será retomado “por inadimplento de cláusula contratual”.
O superintendente e chefe de divisão informaram que, por duas vezes, estiveram na prefeitura para falar com o prefeito sobre este assunto e a questão fundiária do Bairro da Ponta do Caju, mas tomaram “um chá de cadeira” de cinco horas e outro de duas horas e não foram atendidos.
Lucie Winter disse que a gestão anterior estava desenvolvendo um bom projeto e havia até uma equipe de regularização, cujo trabalho estava bem avançado, já com distribuição em quadras e lotes.
“Estava em fase de aprovação em quadras e começando um procedimento para trocar o contrato. Mas mudou o governo e o projeto foi enterrado e agora está parado. O aforamento perdeu o prazo e Brasília não aceita mais”, disse a Chefe de Divisão do SPU.
Ela destacou, porém, que o objetivo do SPU é de ajudar o município e ainda pode ser feito um projeto de regularização de fundiária, por meio de uma Concessão de Direito Real de Uso (CRU), onde o contrato passa a área aos municípios, de forma gratuita, para todos os que se enquadrarem no programa.
“Eles podem registrar o imóvel e dizer ‘isto aqui é meu’, sem custo para o município”, destacou. Esta regularização só pode ser retomada agora pelo CRU, onde a prefeitura fica com obrigação de titular os beneficiários (moradores), ficando como interveniente.
Ponta do Caju será notificada
O Superintendente Jorge Luiz fez um grave alerta aos vereadores presentes à reunião, informando que toda Planta da Ponta do Caju é um aforamento da União e o município perdeu. Nos próximos dias o SPU vai notificar a prefeitura para que entregue o imóvel, que tem o estádio, ginásio e piscina, além da Câmara de Vereadores e escola municipal.
“Tudo o que tem no local é da União. Todos são invasores e todos os imóveis podem ser pedidos, pela reintegração de posse. O SPU não quer isto e o objetivo é trabalhar em conjunto”, disse o Jorge Luiz da Silva.
A presidente da AMIV alertou que estão ocorrendo invasões na ilha e o superintendente advertiu que o SPU irá responsabilizar a prefeitura pelas invasões, uma vez que é uma obrigação do município. Entretanto, alerta que é preciso denunciar para a Força Verde, SPU e MPPR, para efeitos de regularização na ilha.
Ele disse ainda que, este ano, a prefeitura recebeu auxílio de livre destinação no valor de R$ 424.038,24 e que, se houvesse uma parceria para regularizar toda esta questão fundiária, os recursos poderiam ter sido destinados para resolver o problema. Por sua vez, Lucie ressaltou que o prefeito ainda não fez nenhuma manifestação sobre o assunto.
Eu sinto muita pena de Paranaguá, de verdade, porque o que falta mesmo é vontade, opinou.
Para Miriam Mathias, foi triste saber que o município perdeu o aforamento, por ser uma luta que vem trabalhando por todos os moradores do local. Ela destaca que os insulanos precisam da regularização fundiária, por conta das invasões e pelos benefícios que virão do Governo Federal. “Agora estamos de mãos atadas de novo.
Todo um trabalho jogado fora desde 2013, desde o início das nossas idas à Câmara, com cartazes, e não é só a regularização, tem ainda o IPTU que se encontra no Fórum com dívida ativa, execuções de dois mil moradores no fórum. Não aceitamos esta situação. O prefeito não deu continuidade no projeto da gestão antecessora. Mas a AMIV não irá desistir desta questão”, garantiu a presidente.