Amilton Aquim: 60 anos de trabalho voluntário na imprensa do Paraná


Por Redação JB Litoral Publicado 12/11/2016 às 12h14 Atualizado 14/02/2024 às 17h00

Escolhido pelos colegas e admiradores da imprensa para dar nome à 10ª edição do Troféu Imprensa de Paranaguá, Amilton Aquim, no alto dos seus 78 anos surpreende pela aguçada memória e o saudosismo de fazer informação usando máquina de escrever.
 

Figura ímpar e marcante na imprensa do Paraná, o profissional de rádio e jornal, Amilton Aquim, entrou na carreira quando ainda jogava campeonato de botão aos 16 anos de idade e hoje acumula 60 anos de um trabalho excepcional, feito de forma simples, objetiva e de enorme credibilidade.

Do grupo de meninos da Rua Marechal Deodoro, hoje, renomadas personalidades na cidade e no Estado, como Edgar Picanço, Chico Dentista, Roberto Martins, Miguel Jamur, entre outros, uma brincadeira de narrador e comentaristas dos jogos de botão, fez surgir uma das mentes mais brilhantes que passou por todas as fases da Rádio Difusora de Paranaguá, antes mesmo de ela pertencer à igreja católica. 

Casado com Mariana Vallin, a companheira de todas as horas e muitos anos, nesta entrevista exclusiva feita pelo JB em sua residência, no escritório que ele chama de seu “cantinho” e guarda fotos, troféus, homenagens e lembranças inclusive de quem já partiu, Amilton Aquim fez uma síntese de mais de meia década de imprensa.

 

JB – Como você iniciou sua carreira?

Aquim – Foi precisamente no dia 25 de março de 1955, quando a Rádio Difusora era de propriedade dos irmãos José Emilio e Renê Rizental. Estava na Praça Fernando Amaro , quando chegou Airton Poli, a quem devo minha entrada no rádio, e me perguntou: Amilton Aquim você não quer entrar na Rádio Difusora de Paranaguá? Na época existia um programa chamado “A Hora do Esporte”, que era às 18h, feito por João Fernandes Capelão e Francisco Alves Guerra, Chiquito. Houve uma briga deles com o Sr. Rizental e precisavam de uma pessoa para fazer o esporte. O Airton me levou na rádio e me apresentou ao Sr. José Rizental que me disse que se eu queria trabalhar precisava começar naquele mesmo dia. Fiquei apreensivo e, no final, sai às 11h da manhã da rádio acertado para começar às 18h. Deu uma tremedeira e aquele friozinho na barriga, mas deu tudo certo.

 

JB – E qual foi seu salário na época?
 

Aquim – Não tive salário. O Sr. José gostou do meu trabalho, mas me disse que a rádio tinha dificuldade e, por enquanto, não iria me pagar e eu iria trabalhar de graça. Eu concordei e disse que ele nem falasse em salário. Meu pai tinha loja e estava bem no comércio e eu estava bem de dinheiro no bolso. Comecei na emissora e ali fiquei até quando a rádio transferiu suas atividades para os padres redentoristas. A fundação da rádio aconteceu no dia 24 de outubro de 1942 e, no mês passado, completou 74 anos de existência.

No dia 06 de janeiro de 1957, a rádio inaugurou sob a direção dos padres redentoristas e ficou de lá para cá como Fundação Redentoristas de Comunicação Sociais. Eu fiquei na rádio de 1955 até 1997, só na Rádio Difusora sempre de maneira voluntária. Ao longo de 60 anos de imprensa trabalhei abnegadamente sem ganhar um tostão. Foi assim na Rádio Difusora, Ilha do Mel FM, Litoral Sul FM, Rádio Morumbi, Guairacá, B2, Marumbi de Curitiba e Rádio Independência de Curitiba, onde trabalhei como correspondente esportivo voluntário e sou um dos fundadores.

Em 1958 entrei no Instituto Brasileiro do Café (IBC) e me aposentei em 1992 e lá ganhava bem, por isso nunca queria nada no rádio. Não é que as rádios me negassem pagamento, eu que nunca pedi e não posso me queixar de que as elas não me pagavam.

 

JB – Como foi trabalhar na Difusora?
 

Aquim – Foram muitos anos de felicidade. No período em que fiquei fazia comentário de futebol, programa de estúdio, também tinha um programa “Serestas à Noite”, outro chamado “Disque-toque”, que tocava uma música e eu analisava o seu teor, fiz reportagens com gente importante com Luiz Carlos Prestes, Requião, o craque Zizinho, Silvio Petrônio, Professora Rachel Costa. Quando foi criado o Jornal da Manhã, comigo e com o Ludovico Mikosz, tinha Waldir Campos que começou a fazer as notícias policiais, Antonio Pioli também participava e eu também fazia reportagem de rua. Hoje tenho saudades da rádio daquele tempo.

 

JB – Você também foi o único repórter de rádio a cobrir os títulos de campeão de Coritiba e Atlético?
 

Aquim – Exatamente. É uma das maiores emoções da minha vida. Eu fui, presenciei e trabalhei comentando dois times paranaenses sendo campeões brasileiros. Em 1985, a decisão do Coritiba e Bangu no Maracanã, fui eu, Airton Poli, Celso Chichorro, Antonio Pioli e lá encontramos Nestor Batista, que já trabalhava com crônica esportiva em Curitiba, muito antes de ele entrar no Tribunal de Contas do Paraná como auditor. Além de assistir ao Coritiba ser campeão e comentar em 1985, em 2001 o Atlético Paranaense disputou o título do Campeonato Brasileiro com o São Caetano no Estádio Anacleto Campanelli e eu estava lá. Desta vez, não pela Difusora e sim pela Equipe Bola na Rede de Valdir Brás, com Valdir Brás e Julinho Cesar de Antonina. Tive o privilégio de ver duas equipes paranaenses serem campeãs do brasileiro e eu trabalhando. Um privilégio que tenho e guardo com muita emoção.

 

JB – Em plena era da internet é verdade que você ainda usa máquina de escrever trabalhando no seu cantinho?
 

Aquim – É verdade sim. Eu me emociono muito porque aqui é meu cantinho. Aqui tenho meu acervo de fotos, as minhas condecorações e minha inseparável máquina de escrever. Não sei mexer com computador e, até hoje, eu uso a máquina de escrever. Tenho um poeta que me inspirei nele, Carlos Drumond de Andrade, ele usava a máquina dele e eu tenho a minha, que é a minha salvação. Recentemente mandei arrumar, fazer limpeza e trocar as fitas. Tenho outra de reserva e as duas estão positivas. Não uso o computador. A minha mulher usa, mexe na internet, no Google e eu nem sei usar e não quero aprender. Se não aprendi quando era novo, com 78 anos eu não quero aprender. Prefiro ficar com a minha máquina.

 

JB – Como foi seu trabalho nos jornais?
 

Aquim – Trabalhei em muitos. No Diário do Comércio fiz crônicas a partir de 1952 com o saudoso Miguel Anastácio, que eu tinha um carinho especial, também com Antero Regis, Zenon Pereira Leite. Passei ainda pela Revista Itibere e Jornal Imparcial e também, em todos estes jornais, participei anos e anos abnegadamente, sem remuneração, porque fazia o que gostava. Minha mulher cobrava que trabalhava de graça, mas trabalhei porque gostava. A imprensa era a minha cachaça e colaborei com todos. Em Curitiba com a Gazeta do Povo, Tribuna do Paraná, Diário da Tarde, que não existe mais, com o Paraná Esportivo que tinha correspondente em Paranaguá, que era o meu amigo Luiz Fernando Ramos, participei de toda a imprensa do Paraná. Quando vou a Curitiba e chego na Boca Maldita vem o pessoal da velha guarda em torno de mim, Luiz Mazza, Airton Cordeiro, Carneiro Neto, todo este pessoal vem me felicitar, fazem aquela rodinha e ficamos horas e horas recordando. Isso para mim é a melhor riqueza que tenho.

 

JB – Como foi para você saber que deu nome ao Troféu Imprensa de Paranaguá?
 

Aquim – No momento que eu li o jornal e estava estampado que o Troféu Imprensa de Paranaguá 2016 levaria o nome de Amilton Aquim eu chorei na hora, foi muito emocionante. Tem tanta gente que ainda pode levar o nome do Troféu Imprensa e, por isso, fico muito grato a todos os colegas de imprensa que votaram em meu nome, a você e à Jéssica pela indicação. Viver esta emoção, a felicidade de receber esta homenagem, uma pessoa com 78 anos e 60 anos de imprensa, já no fim da carreira receber uma homenagem tão significativa é muito gratificante.