Após polêmica, CEM e prefeitura de Pontal do Paraná esclarecem o enterro de baleias


Por Redação Publicado 17/08/2021 às 21h29 Atualizado 16/02/2024 às 10h30

A coluna Território Animal, de responsabilidade do biólogo Caio Fernandes, divulgou em seu espaço, recentemente, reclamações de moradores do balneário de Pontal do Sul, em Pontal do Paraná, do mau cheiro gerado pela decomposição das baleias encalhadas. Com base nisso, o JB Litoral procurou a prefeitura e o Campus Pontal do Paraná – Centro de Estudos do Mar (CCP-CEM) para informar quais as condições do enterro das espécies.

Para o secretário de Meio Ambiente do município, Jackson Cesar Bassfeld, é necessário resolver a situação de animais mortos na praia com o melhor tratamento possível e técnicas apropriadas. “Existe hoje uma rede de monitoramento que é capitaneada pelo laboratório da doutora Camila Domit, do Centro de Estudos do Mar. As melhores práticas em relação a esses sepultamentos são orientadas pelos pesquisadores e acadêmicos. Eles orientam o local que tem que ser feito a cova, a profundidade e etc.”, explica o secretário que afirma haver apoio mútuo da gestão com os cientistas.

Já a pesquisadora Camila Domit, responsável por cuidar desse tipo de acontecimento, o descarte do que sobra dos animais marinhos é feito da forma mais correta e técnica possível, garantindo a estabilidade do ecossistema e realizando o destino regular já que a baleia é nativa daquela região. “Mantê-los no ambiente depois de mortos, é superimportante porque todo o carbono que forma os ossos e tecidos desses animais, voltam para o ecossistema. E é exatamente esse carbono que garante a produtividade dos nossos ecossistemas marinhos e costeiros do Paraná. Se a gente tem hoje uma plataforma rica e produtiva, um dos motivos é esse ciclo de carbono”, explica a pesquisadora que também ressalta ser seguro para a saúde e para o meio ambiente a forma de descarte. “Documentos mostram que enterrar é uma das medidas de menor impacto ao meio ambiente porque o animal já faz parte daquele espaço. A questão de o material apodrecer e se decompor, a gente tem que lembrar que a decomposição é natural no ciclo biológico”, diz.

Modelo de sepultamento pode ser aprimorado

O secretário do Meio Ambiente acredita que há possibilidades para atender o interesse da comunidade e manter os cuidados ambientais necessários e protocolares. “Em princípio, eu não vejo uma destinação mais adequada. No entanto, talvez tenha condições a ser melhoradas, como identificar melhor o local do sepultamento, ver se não há conflito de interesses com pescadores ou com veranistas, além de fazer uma melhor comunicação entre as partes interessadas. Mas, eu entendo que isso seja um ciclo de melhoria contínua, entre toda essa rede”, diz Jackson, que também ressalta ser importante descobrir o que está acontecendo para a morte desses animais. “Existem alguns dados entre o litoral paranaense e o litoral de São Paulo, no qual são aproximadamente 20 animais mortos só nessa temporada. Isso realmente chama a atenção. Eu acho bem pertinente se fazer esse questionamento. É uma indagação que, de modo geral, a população gostaria de ter algumas hipóteses”, comenta o gestor.

Para Camila Domit, há um grande cuidado na forma de lidar com os enterros e também nos estudos das espécies e, por isso, é necessário haver compreensão e entendimento da sociedade. “A gente teve mais de 14 mil encalhes de animais marinhos no litoral do Paraná desde 2015. Grande parte desse material, a gente não devolve para o ecossistema. Nenhum animal que é trazido para o laboratório é devolvido para a natureza. No caso da carcaça, o destino e a incineração. A gente gasta anualmente mais de R$ 100 mil em incineração de carcaças e de materiais biológicos e de risco à saúde”, explica a pesquisadora que também pondera: “Existe sim, uma série de críticas e de questionamento sempre que há a presença de carcaças, mas eu entendo que isso faz parte da falta de conhecimento da sociedade sobre a importância dessas carcaças para o ecossistema. A gente tem uma tendência a achar que tudo que cheira mal ou que é feio tem que ser retirado, mas precisamos entender o que aquele elemento representa para a natureza”, conclui.