Com 40% dos agricultores afetados pela geada, Morretes pode decretar Estado de Calamidade Pública


Por Redação Publicado 09/08/2021 às 14h14 Atualizado 16/02/2024 às 09h42

Abobrinha, vagem, chuchu, tomate, pimentão, berinjela, banana.  São vários os tipos de vegetais, entre hortaliças, leguminosas e frutas, todos queimados, perdidos devido aos efeitos da geada, que mudou o cenário e trouxe tristeza para os produtores de Morretes, nos últimos dias de julho.

O agricultor lamenta as perdas provocadas pela geada nas plantações de abobrinha e vagem / Crédito: Reprodução/Diogo Monteiro

O agricultor João Santana da Rosa, que vive na localidade de João Sagrado de Baixo, e tira da terra o sustento da família, disse ao JB Litoral que perdeu 60% da produção de abobrinha e quase toda a plantação de vagem. A gente foi pego [sic] de surpresa pela geada, que aumentou, ainda mais, os custos, porque produzir no inverno já é mais caro, com esse prejuízo fica bem pior. Também de acordo com o Seu João, a propriedade ainda não foi visitada por nenhuma autoridade ou órgão público e os preços dos vegetais que ele planta chegaram a quadruplicar.

Já na Colônia Rio do Pinto, o produtor de chuchu, Luiz Carlos Zilen, relatou que até esperava a geada, mas não tão forte como veio dessa vez. Passamos um óleo vegetal para proteger, mas foi tão forte que prejudicou os frutos e queimou as folhas do mesmo jeito, perdemos mais da metade da plantação. Para recuperar, vai levar mais de um mês, isso se não voltar a gear, lamenta o agricultor.  Ele, junto com o pai e o irmão, cuida da plantação que ocupa a propriedade da família, que tem 10 hectares. Luiz Carlos chegava a vender a caixa de chuchu por R$ 10, com a produção sem os efeitos provocados pela geada, agora diz que a caixa do legume chega a ser vendida por R$ 60, mas é difícil de encontrar.

Na localidade da Colônia Rio do Pinto, o agricultor até tentou proteger o chuchu da geada, mas não teve jeito, perdeu mais da metade da plantação / Crédito: Reprodução/Diogo Monteiro

LEVANTAMENTO X CALAMIDADE

O JB Litoral conversou com o secretário de Agricultura de Morretes, João Navarro. Segundo o responsável pela pasta, o prefeito de Morretes, Sebastião Brindarolli Junior, avaliou, junto à Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento, os danos causados nas culturas agrícolas e a situação das lavouras dos agricultores familiares impactados pelas geadas registradas no mês de julho. Ainda de acordo com João Navarro, que é engenheiro agrônomo, ele, juntamente com técnicos da secretaria e da defesa civil, está verificando “in loco” as lavouras dos agricultores familiares, para avaliar e estimar o estrago causado pelas geadas nas culturas agrícolas.

A extensão dos danos está sendo analisada e medidas de mitigação de impacto estudadas, para atender àqueles que tiveram suas lavouras afetadas. Uma das possíveis medidas, para atenuar os efeitos das baixas temperaturas, é decretar estado de emergência ou calamidade pública. Desta forma, é possível acessar recursos e implementar políticas públicas para o atendimento a esses agricultores, disse João Navarro.

Quando questionado sobre o quantitativo e a real possibilidade da prefeitura de Morretes decretar estado de emergência ou calamidade pública, o secretário afirmou que vai depender da conclusão do levantamento que verifica a abrangência dos danos aos agricultores, ao longo desta semana, mas que até a sexta-feira (6), pelo menos 40% dos que foram visitados haviam sofrido danos em alguma cultura. Estamos avaliando a gravidade dos estragos para sim decretar calamidade, mas estamos visitando os agricultores para verificar a abrangência e termos base técnica para isso. Tem agricultores que plantam diversas culturas ao mesmo tempo e algumas sofrem e outras não, detalhou o secretário.

ALERTA E CULTURAS AFETADAS EM GUARAQUEÇABA

Não existe um monitoramento que possa alertar aos agricultores sobre geadas, em Morretes, que, segundo o secretário João Navarro, são atípicas na cidade. Mas, de acordo com ele, caso o fenômeno volte a se repetir em um curto intervalo de tempo, a prefeitura vai estudar, em conjunto com o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), uma forma de alertar para geadas.

Morretes não foi a única cidade do litoral afetada. De acordo com a prefeitura de Guaraqueçaba, perdas também foram causadas aos agricultores familiares do município.

Segundo o diretor de agricultura da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Mario Dias Júnior, o qual afirmou em publicação do portal da prefeitura, as equipes da secretaria têm realizado o trabalho nas comunidades rurais e, até a quinta-feira (5), foram visitadas as comunidades do Potinga, Tagaçaba, Serra Negra, Açungui, Rio Bananal, entre outras. Tivemos esse fenômeno das geadas, com temperaturas abaixo de zero grau na maioria das comunidades. Juntamente com a equipe da Defesa Civil e do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural), realizamos o levantamento dos prejuízos de pequenos e grandes agricultores.  Os efeitos das geadas demoram alguns dias para aparecer, por isso, até o momento, fizemos trabalho interno e somente agora começamos o relatório, disse Mario Dias Júnior.

ESTIAGEM X GEADAS

Segundo o boletim semanal, publicado pelo Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, na última quinta-feira (5), a pouca ocorrência de chuvas no Estado, há mais de um ano, agravada pelas geadas registradas em 30 de junho e 19 e 28 de julho, afetou o desenvolvimento de várias culturas. As análises sobre as perdas ainda não terminaram, mas, dependendo da fase de desenvolvimento da planta, a gradação vai de poucos estragos a grandes perdas.

A análise sobre a situação de várias frutas produzidas no Estado é um dos assuntos do Boletim de Conjuntura Agropecuária, na semana de 31 de julho a 5 de agosto. Nos últimos dois anos, o comportamento das frutíferas foi influenciado pelos ciclos de estiagem cada vez mais frequentes. A deficiência hídrica compromete safras atuais e futuras e influencia as mais diversas fases das frutas. Os citros – laranja, tangerina e limão – e a maçã foram menos impactados. Já as frutas de caroço – pêssego, ameixa e nectarina – foram diretamente afetadas. Mesma situação dos abacaxis, variando conforme a indução floral, e das uvas, dependendo da fase da poda.

Para os abacates, que estão em fase de produção ou florescimento, e os maracujás, em final de colheita, as perdas não foram expressivas. No caso dos morangos, as plantações protegidas por estufas não sofreram. Mas para aquelas a céu aberto, os danos foram grandes, mesma situação sentida pela banana.

Por Flavia Barros