Como a quebra da safra de milho vai afetar Paranaguá


Por Redação Publicado 07/08/2021 às 13h38 Atualizado 16/02/2024 às 09h32

A seca e a geada, que afetaram a produção de milho no Paraná, trarão reflexos diretos para as operações portuárias em Paranaguá. A estimativa é de que a safra atual seja, no mínimo, 58% menor que a prevista, deixando estruturas ociosas, alterando a oferta de fretes e interferindo nos preços de outros produtos, como a carne.  Para os operadores de granéis sólidos, o segundo semestre de 2021 será desafiador, com perspectivas de prejuízos.

A grande maioria dos produtos transportados por Paranaguá está em alta – registrando números mais positivos que nos anos anteriores. Mas não é o caso do milho. Em 2019, entre importações e exportações, foram negociadas 5,6 milhões de toneladas. No ano passado, já foram 2,5 milhões (abaixo da média de 4 milhões). E em 2021 as cargas transportadas de milho somaram apenas 694 mil toneladas. A movimentação costuma ser mais concentrada no segundo semestre, mas não há previsão de recuperar as estatísticas.

O porto está registrando fluxo inverso: ao invés de enviar a produção de milho para outros países, está recebendo navios carregados. Já foram quatro embarcações neste ano, vindas da Argentina, somando 134 mil toneladas. Em comparação com os volumes enormes que o porto de Paranaguá movimenta, parece pouco, mas indica uma inversão importante na lógica comercial e, principalmente, na oferta de serviços portuários. O diretor de Operações da Portos do Paraná, Luiz Teixeira da Silva Júnior, explica que essas transações visam abastecer o mercado interno, carente de milho.

Panorama paranaense

Para entender o cenário, é preciso compreender um pouco da dinâmica agrícola do estado. O Paraná tem duas safras de grãos/commodities por ano – em alguns lugares, até três. A primeira, mais produtiva, por causa das condições climáticas, é a que tem plantio de agosto a outubro (depende da região) e tem a colheita de janeiro a março. Por causa do preço, das condições de venda e dos custos de produção, os agricultores paranaenses estão preferindo apostar em soja.

Para a segunda safra, os produtores precisam investir em outra cultura, por causa do chamado vazio sanitário (tempo de intervalo para evitar disseminação de doenças). E é aí que muitos costumam plantar milho. Faltou chuva no momento do desenvolvimento das plantas e geou no momento da formação das espigas. Como isso, além de produção menor, também está com menos qualidade.

O consultor de Logística da Federação de Agricultura do Paraná (Faep), Nilson Hanke Camargo, comenta que o milho já vem perdendo área para a soja, em função do valor alto da saca. A produção estadual fica na casa de 12 milhões a 14 milhões de toneladas, tendo alcançado o recorde de 18 milhões. Mas a quantidade atual é menor do que o necessário para o consumo interno, seja para uso humano, seja como ração animal. O consultor comenta que o Paraná já costuma trazer milho de outros estados, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Goiás, mas que em 2021 será necessário muito mais. A estimativa é de que sejam necessárias 4 milhões de toneladas, pelas contas do Departamento de Economia Rural (Deral).

Essa falta de produto, pela quebra na quantidade e na qualidade, terá uma série de consequências: com o preço alto no mercado externo, principalmente pela valorização do dólar, e também para uso interno, por causa da grande procura e da baixa oferta. Um dos principais efeitos é no preço da carne, que vem numa onda crescente e deve subir ainda mais. Cerca de 70% da ração preparada para aves, suínos e bovinos é de grãos, como soja e milho. O presidente da Comissão Técnica de Avicultura da Faep, Diener Gonçalves de Santana, comenta que o setor espera custos mais pesados.

Impacto local

A perspectiva de deixar de movimentar milhões de toneladas de milho neste segundo semestre afeta diretamente vários operadores de graneis sólidos de Paranaguá e também a rede de empresas ade suporte. O Paraná não é o maior produtor nacional de milho (de cerca de 90 milhões de toneladas), mas é do estado a maior parte do que vai para o porto de Paranaguá. Ainda que venham cargas de outros lugares, as expectativas estão baixas.

Algumas empresas, como Cargill e Cotriguaçu, que têm opção de trabalhar as próprias cargas e também outros produtos devem sentir menos os impactos, mas aquelas que apenas manejam graneis sólidos entre exportadores e as embarcações devem sofrer mais. Substituir por outras cargas não é tão simples. Por exemplo, os embarques de farelo de soja costumam ser planejados e distribuídos ao longo do ano. Além disso, é mais difícil de operar, apesar de mais rentável.

Como a maior parte das cargas de milho para exportação começava a chegar em julho, é a partir de agora que os efeitos começaram a ser sentidos, sem previsão de que as perdas sejam compensadas, representando um ano ruim. As estruturas de armazenamento e a mão de obra que seria usada no embarque devem ficar ociosas. Alguns operadores estimam prejuízos milionários com a redução brusca da exportação do produto.

Com menos caminhões levando milho para Paranaguá, também haverá menos oferta para realizar o frete de retorno, com carregamentos de fertilizantes. Há estimativas de que o valor do transporte fique mais caro. Com menos veículos circulando na cidade neste segundo semestre, outras empresas devem ser impactadas. O cenário não é desolador no geral porque muitas outras cargas estão em alta, como graneis líquidos e contêineres.

Por Katia Brembatti

Movimentação de milho no Porto de Paranaguá, considerando exportações e importações

Ano       Total movimentado

2019        5.610.847

2020        2.532.886

2021        694.256