Dengue cresce no litoral e, apesar de baixa eficácia, fumacê se torna necessário nas cidades


Por Redação JB Litoral Publicado 04/05/2021 às 13h35 Atualizado 16/02/2024 às 01h11

Por Brayan Valêncio

Utilizado por anos como um coringa no combate à proliferação do mosquito Aedes aegypti no litoral paranaense, o fumacê acabou, com o tempo, deixando de ser regra para se transformar em um veneno de último caso, devido às suas propriedades tóxicas.

Considerado de fácil e rápida manipulação, o inseticida, o qual é colocado em um caminhão que circula pelas regiões mais afetadas por mosquitos responsáveis por disseminar a Dengue, Chikungunya e o Zika Vírus, não é perigoso para a saúde humana em pequena dosagem, mas, se houver frequência, pode acarretar em problemas como dor de cabeça, vômitos, diarreias, dificuldade para respirar e até desmaio, segundo o Ministério da Saúde.

José de Abreu, chefe da 1º Regional de Saúde de Paranaguá, que abrange os sete municípios do litoral, considera que o fumacê não é a tática mais inteligente para o período de maior infestação dos mosquitos. “O fumacê não tem indicação para as áreas que nós estamos atuando neste momento, já que ele tem muito baixa eficácia”, diz.

Agente de endemia
Os agentes endêmicos fiscalizam as principais fontes de proliferação da Dengue, como o lixo, que responde por 53% dos potenciais criadouros. Foto: Divulgação

Como é um produto tóxico, a inalação prolongada do inseticida pode causar intoxicação também em animais domésticos. Portanto, é fundamental retirar os pets de áreas externas em um período próximo à nebulização do fumacê, já que o veneno, lançado por agentes de vigilância, tem a capacidade de causar danos graves aos cachorros e gatos e até de matar pássaros. Além disso, nem todos os mosquitos são neutralizados com o inseticida. “O mosquito é 60% resistente ao veneno. Além do que, o fumacê provoca o desequilíbrio ecológico, à medida que mata abelhas e outros insetos que contribuem para o meio ambiente”. explica José de Abreu, que também ressalta que há um outro caminho a se seguir no combate ao Aedes aegyptiA ação mais efetiva é a destruição de criadouros”, completa.

Antonina suspende provisoriamente

Com a intensidade das chuvas dos últimos dias de abril, a Prefeitura de Antonina optou por suspender a aplicação de fumacê no município. Uma nota pública foi divulgada na página oficial da prefeitura, no último dia 27, explicando os motivos que levaram à decisão de interromper a ação municipal. “Devido à incidência de chuvas, a aplicação do fumacê foi interrompida e a ação retornará assim que as condições climáticas permitirem. Enquanto o tempo não melhora, a Secretaria Municipal de Saúde está realizando ações de conscientização e distribuição de panfletos”, diz um pedaço da postagem.

A prefeitura ainda buscou ocupar o espaço na rede social para trazer dicas de enfrentamento ao mosquito. “Uma das maneiras mais eficazes de combate à Dengue é interromper o ciclo de reprodução do mosquito Aedes aegypti, e a participação da comunidade é fundamental neste processo. É muito importante estar atento aos locais que podem acumular água na sua casa. Verifique sempre os vasinhos de plantas e calhas e mantenha reservatórios e caixas d’água sempre bem tampados”, explica a nota assinada pela Secretaria Municipal de Saúde.

Dois dias após a interrupção oficial das atividades, a prefeitura voltou à rede social para dizer que o bairro do Portinho seria o próximo a receber o caminhão do fumacê. “Quando o fumacê chegar ao seu bairro, lembre-se de deixar a casa aberta, isole seus animais em ambientes fechados e mantenha as pessoas que possuem problemas respiratórios em local isolado da residência, por até 30 minutos após a aplicação do inseticida”, explicou a página da prefeitura, que ainda afirma que os trabalhos no bairro continuarão pelos próximos dias.

Dengue em Antonina acelera

O boletim epidemiológico, da última semana, colocou a cidade de Antonina em alerta, já que junto com Paranaguá e Morretes, o município é considerado como situação de epidemia. Só na última semana, foram 41 novos casos confirmados entre os 535 das sete cidades litorâneas. É a primeira vez, no período de análise (de agosto de 2020 até o final de abril), que Antonina entra no mapa marrom de risco de infecção da Secretaria de Estado da Saúde (SESA).

No acumulado, a cidade já soma 148 casos confirmados, ou seja, os dados da última semana representam 27% do total registrado, demonstrando que uma a cada quatro pessoas, que se contaminou desde agosto do ano passado, ficou doente entre os dias 20 e 27 de abril.

A secretaria ainda investiga outras 79 possíveis infecções e alerta para o risco médio de contágio no litoral devido às características climáticas do outono e inverno, principalmente em Pontal, Matinhos, Guaratuba e Paranaguá – cidade com maior incidência de casos.

Um novo informe será divulgado na terça-feira (04), trazendo os primeiros dados do mês de maio.