Dois anos de pandemia: secretário de Saúde analisa período


Por Agência Estadual de Notícias - AEN Publicado 13/03/2022 às 03h45 Atualizado 17/02/2024 às 03h43
beto preto
Doença chegou ao Paraná em março de 2020. Foto: Diogo Monteiro/ JB Litoral

Há dois anos, o Paraná confirmava os primeiros casos de uma doença então pouco conhecida, mortal e que mudaria a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. No dia 12 de março de 2020, em uma coletiva de imprensa, o secretário de Estado da Saúde, Beto Preto, anunciou a presença do vírus responsável pela Covid-19 em solo paranaense.

Naquela ocasião, ninguém sequer imaginava como seria o real enfrentamento a este inimigo invisível. A pandemia já soma 453 milhões de casos e 6 milhões de mortos no mundo. No Paraná, o número de casos passa de 2,3 milhões com 42,4 mil óbitos. A título de comparação, é como se mais de 3 mil pessoas pegassem a doença e 58 morressem, todos os dias, nos últimos dois anos no Estado.

Agora, após centenas de ações e medidas de prevenção para o combate à doença e com a estabilização do cenário epidemiológico no Paraná, Beto Preto narra como foi a preparação, o enfrentamento e o que esperar para o futuro do pós-Covid.

Como foram estes dois anos de Covid-19 no Paraná?

É uma grande jornada, iniciada no começo com a decretação de emergência em saúde pública de interesse internacional, o primeiro caso no Brasil, e o ano de 2020 foi marcado pela corrida atrás de novos leitos, ventiladores, monitores, equipamentos de proteção individual, testes e o combate sem vacinas ao coronavírus. Pessoas perdendo a vida, uma pandemia que chegou sem precedentes e que não veio com manual de instruções, e que, principalmente no segundo semestre, fomos marcados pela expectativa da chegada das vacinas.

Já 2021 foi outra página. Houve a intensificação de casos de Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG) no verão e em meados de janeiro, começamos a receber as primeiras doses da vacina contra o coronavírus, e aí vem a segunda etapa desse combate que é a etapa efetiva da tão ansiada imunização.

Inicialmente dos profissionais de saúde, pessoas de mais idade, descendo para as outras faixas etárias. Ao longo de 2021 seguimos vacinando, primeira dose, segunda dose, dose única, no segundo semestre, a chegada da dose também para o reforço, a imunização dos adolescentes e no final do ano de 2021 o momento de vacinar as crianças.

Essa pandemia é marcada por diversos momentos diferentes, eu diria até que são diversas pandemias dentro de uma só pandemia, porque tivemos três ondas efetivas, e que essas ondas no momento mais duro e agudo ceifaram a vida dos paranaenses e brasileiros, de muitas pessoas no mundo todo. “Uma jornada de perdas, aprendizado, muitas ações e esperança“.

Como o Paraná se preparou para enfrentar a Covid-19?

Transparência e cautela. Estes foram nossos dois pilares, nosso binômio, desde o início da pandemia, principalmente quando falamos em nos relacionar e informar a população. Transparência total sempre, dando as boas notícias e aquelas que inevitavelmente não foram boas, e cautela porque o Paraná nunca precisou sair na frente de ninguém, sempre fez e continuará fazendo o seu dever de casa, colocando como prioridade a vida dos paranaenses.

O Estado contou com um governador que teve a confiança na equipe de Saúde do Estado e, também, na nossa relação com as equipes municipais. Segundo ponto importante é a relação de parceria absoluta com os hospitais paranaenses, sejam eles públicos, privados ou filantrópicos, todos colocaram suas estruturas à disposição do Governo e possibilitaram a maior abertura de leitos da história da saúde do Paraná.

Qual foi a estratégia do Paraná para atender os pacientes infectados?

Eu vejo que hospitais de campanha têm começo, meio e fim, e nós sempre nos preocupamos aqui no Paraná com o legado de todo esse processo da pandemia, e por isso rapidamente colocamos três hospitais que estavam à disposição, finalizando as obras, e outro que já estava pronto exclusivamente para o combate ao coronavírus.

Os quatro hospitais universitários em Londrina, Ponta Grossa, Maringá e Cascavel, também colocaram suas estruturas para o atendimento Covid. Tivemos também uma rede satélite de hospitais que já tinham investimentos do Governo do Estado para abertura de leitos de UTI, tanto nas obras quanto nos equipamentos, e que neste momento de urgência foi também essencial.

Nosso esforço de ampliação de leitos é sem precedentes. Nós tínhamos 1.200 leitos cadastrados para adultos em UTI geral no SUS do Paraná. Em questão de um ano ampliamos em mais 2 mil leitos, passando de 3,2 mil. Isso também na área de enfermaria, mas que em muitos momentos estiveram próximos no colapso, principalmente nas mudanças de variantes e cepas.

Qual foi o pior cenário da pandemia no Paraná?

O pior cenário é a perda de alguém, sempre. Porém na gestão desse processo nós tivemos que passar por diversas situações completamente diferentes. Eu nunca pensei que em 28 anos de formação como médico enfrentaria algo assim. De repente, não estou apenas enfrentando, mas estou na condução e gestão dessa crise no Paraná, investido no cargo de secretário de Estado.

Tivemos momentos duros como a crise dos medicamentos, por duas ou três vezes, quase acabando, e sabendo do número enorme de paranaenses deitados em leitos de UTI, intubados e sedados, e que poderiam ter em algumas horas a falta de medicamentos – isso é dramático.

Ao mesmo tempo tivemos que lidar com situações bastante dúbias, como a indicação de coquetéis de medicamentos que hoje se demonstram absolutamente sem nenhum critério médico, sequer científico, ou ainda a revolta das pessoas por eventualmente precisarem se fechar em casa pela necessidade do isolamento.