Em crise financeira, Península entra em fase de recuperação judicial


Por Redação JB Litoral Publicado 26/05/2015 às 13h00 Atualizado 14/02/2024 às 07h56

No último dia 13, a empresa Península Fertilizantes, com ampla atividade em Paranaguá, teve o pedido de decretação de recuperação judicial acatado pela 1ª Vara de Falências e Recuperação Judicial de Curitiba. A fase crítica da Península ocorre apenas seis meses depois de ter anunciado planos de expansão ambiciosos no país e ocorre pelo fato de ter adquirido dívidas em curto prazo, algo que agravou uma situação financeira delicada vivida há anos. O principal prejuízo é causado aos funcionários da empresa que estão sendo demitidos e que, segundo fontes sigilosas, não estão recebendo suas verbas rescisórias.

Segundo um funcionário, que não quis se identificar por medo de sofrer represálias, atualmente ainda há funcionários trabalhando na empresa, mas grande parte está sendo demitida gradativamente. De acordo com ele, a empresa não lhe pagou nenhuma verba rescisória, motivo pelo qual ele não pode dar entrada no pedido de seguro-desemprego. Todos os funcionários que o JB entrou em contato ou não quiseram se identificar ou ficaram com medo de dar entrevista, devido ao receio de não receber futuramente suas verbas rescisórias.

A falta de pagamento dos débitos trabalhistas está atrelada à situação financeira crítica da empresa, que atualmente possui uma dívida de R$467 milhões, que na maior parte foi adquirida em curto prazo e em moeda estrangeira, segundo o advogado Rodrigo Shirai, do escritório Brazilio Bacellar Neto e Advogados, que representa a Península. Em abril de 2014, no último dado público disponibilizado, a empresa já possuía débito com fornecedores na casa de R$170 milhões, algo agravado com mais uma dívida de R$80 milhões de operações relacionadas a emissões de Créditos de Recebíveis do Agronegócio (CRA).

Um dos itens que pode explicar a crise da Península é a retração de 20% das vendas da empresa em 2015, assim como complicações devido a elevada alteração da taxa de câmbio. Com isso, os credores correm o risco de não ter suas dívidas pagas, pelo baixo caixa da empresa para efetuar suas operações. A realidade é que a empresa com sede em Paranaguá tem uma probabilidade alta de falir. Vale ressaltar que em 2013 a empresa obteve uma receita líquida de cerca de R$ 500 milhões com a venda de aproximadamente 500 mil toneladas de adubos.

O histórico dos problemas começou em 2008, afirma o advogado da Peninsula, com prazo correndo desde então para pagar dívidas. Além disso, em 2014 a empresa ficou na expectativa de adquirir uma sócia, a empresa japonesa Mitsubishi, que iria entrar no capital da empresa com R$15 milhões, adquirindo participação de 13,3% da Península. Porém, o negócio não se concretizou e a situação financeira se agravou.
“Dentre as exigências, estava a transferência de imóveis de pessoa física para a sociedade, mas havia uma fazenda que era objeto de alienação fiduciária com um banco e esse banco não aceitou. E a Mitsubishi não cedeu a essa condição”, disse Shirai. Segundo o advogado, as duas empresas possuem uma parceria desde 2002 nos estados de Tocantins, Piauí, Bahia e Mato Grosso, na chamada Península Norte, com 50% de participação para cada lado, porém tal fato não se repetiu em Paranaguá.

Península não se pronuncia

Com a entrada da companhia em recuperação judicial, um plano deve ser apresentado no prazo de 60 dias, contando do dia 13 de maio. Caso qualquer credor tenha alguma objeção, uma assembleia será convocada para a aprovação ou não do plano. Os credores da Península são múltiplos, como inúmeros bancos, fornecedores e até mesmo a própria Mitsubishi. De acordo com o advogado da empresa, a intenção é seguir em operação enquanto o processo corre.

O JB entrou em contato com a Península para saber como os funcionários da empresa ficarão diante da recuperação judicial e se de fato está havendo uma demissão em massa em Paranaguá, porém a mesma não se pronunciou até o fechamento dessa edição. Vale ressaltar que, apesar da situação caótica financeira na cidade, a companhia continua ativa e operando em Paranaguá e em Rondonópolis (MT), contando com várias filiais pelo país. Além disso, a empresa controla a Península Internacional, que possui ampla atuação no Mato Grosso, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, inclusive com previsão de adentrar com investimentos no Paraguai, algo que demonstra a existência de recursos financeiros para saldar as dívidas com seus funcionários de Paranaguá.