Família Roque expõe fragilidade dos poderes em Paranaguá


Por Redação JB Litoral Publicado 01/05/2017 às 18h15 Atualizado 14/02/2024 às 18h14

Ao reinar absoluta na Prefeitura e Câmara de Paranaguá, a família Roque, tradicional na política local, põe em risco a independência dos poderes, Executivo e Legislativo no município. De um lado, Marcelo Roque (PV) é o atual mandatário da Prefeitura e, na Câmara, seu irmão, Marquinhos Roque (PMDB), elegeu-se presidente em uma eleição marcada por denúncias de trocas de favores e cargos para vereadores na administração municipal.

Filhos do Ex-prefeito de três mandatos, Mário Manoel das Dores Roque (PMDB) – que faleceu seis meses após assumir a prefeitura da cidade pela terceira vez em 2013 – a hegemonia da família incomodou grupos políticos e boa parcela da população que não vê com bons olhos, a forma como os irmãos Roque têm se comportado após assumirem a direção da Câmara e Prefeitura. O que mais gerou descontentamento foi a distribuição de cargos de primeiro escalão para aparentados e aliados.

O Prefeito Marcelo Roque nomeou para a Secretaria de Trabalho e Emprego seu jovem filho Brayan Roque e o tornou em supersecretário ao incluir a pasta da Indústria e Comércio a seu comando, apesar de ele não possuir ainda nenhuma qualificação ou experiência profissional na gestão pública. A sobrinha, filha do irmão presidente da Câmara, também foi contemplada. Camila Roque assumiu a Secretaria de Comunicação, porém, como jornalista profissional, é qualificada para o cargo.  

Além dos filhos do prefeito e do presidente da Câmara, a família Roque igualmente privilegiou o Vice-prefeito Arnaldo Maranhão, do PSB, nomeando-o Secretário de Obras Públicas. No início da gestão, o irmão dele, José Simplício Maranhão Neto, foi designado, de forma irregular, para a presidência da Paranaguá Previdência, mas por não ser servidor de carreira foi retirado do cargo e nomeado na, não menos importante, Unidade de Gerenciamento de Projetos (UGP), que administra as obras feitas com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
 

Cargos e eleição na Câmara
 

A suposta troca de favores em Paranaguá, no entanto, não se resumiu aos parentes do Prefeito, do Vice-prefeito e do Presidente da Câmara. Cargos do primeiro, segundo e terceiro escalões da Prefeitura foram distribuídos igualmente pela família Roque para aliados políticos. Uns possivelmente, como retribuição ao apoio recebido por Marcelo Roque na eleição para prefeito. Outros como suposta recompensa dos votos que elegeram seu irmão Marquinhos Roque a presidente do Legislativo.

Dos 19 vereadores eleitos na cidade, 12 votaram em Marquinhos Roque, garantindo assim a base de sustentação política ao Prefeito Marcelo Roque na Câmara Municipal e, em contrapartida, a promessa de alguns cargos para cabos eleitorais. “A eleição para a presidência da Câmara foi uma vergonha”, disparou um dos novos vereadores. “Alguns homens têm valor, outros têm preço”, alfinetou outro dos poucos vereadores de oposição, que só falam mal dos irmãos Roque à boca miúda.

 

Nomeações também chamam a atenção
 

Algumas nomeações também são, no mínimo, estranhas no governo de Marcelo Roque e Arnaldo Maranhão. Uma delas chama a atenção em particular – a de Alexandre Silvério, designado Diretor do Departamento de Auditoria da Secretaria Municipal de Saúde logo após a posse do novo Prefeito, em janeiro deste ano.

Alexandre Silvério, que hoje é responsável pelo controle na Secretaria de Saúde, é o mesmo que foi afastado, em 09 de dezembro de 2016, junto com toda a diretoria do Hospital Regional do Litoral, em função de fortes indícios de irregularidades quanto à escala de plantões e dúvidas na certificação de Notas Fiscais do hospital.

A exoneração de Alexandre e de toda a diretoria motivou a formação de uma Comissão de Processo Administrativo Disciplinar, instaurada em 03 de fevereiro de 2017, para averiguar a conduta funcional dos servidores envolvidos – Alexandre Silvério e os médicos Dennis Wander de Dominicis e Paulo Estevão Candia.

Tudo indica que Alexandre Silvério tenha ligações com o Governo do Estado ou com algum senador do Paraná, já que também teve rápida passagem pelo Porto de Paranaguá. Ele foi Chefe da Divisão de Acompanhamento do Desenvolvimento Industrial até ser exonerado da APPA em 22 de janeiro de 2015. Em 06 de maio de 2015 ele foi nomeado no Hospital Regional. 
 

Prefeitura defende contratação de Alexandre
 

O Jornal dos Bairros entrou em contato com a Secretaria de Comunicação da Prefeitura e fez as seguintes indagações:

  1. Quais as atribuições de Alexandre Silvério?
     
  2. Em qual local ele desempenha suas funções?Qual o horário de seu expediente?Quais critérios o Prefeito utilizou para a sua contratação?O Município tem conhecimento de que ele é alvo de investigação por uma Comissão de Processo Administrativo Disciplinar do Hospital Regional do Litoral?

 

Acompanhe as respostas

De acordo com a Secretaria de Comunicação, “as atribuições do senhor Alexandre vão muito além de simples Diretor de Auditoria, pois tem experiência na área administrativa da saúde”. Ainda segundo a Prefeitura, Alexandre Silvério “inclusive recomenda o acompanhamento presencial dos médicos, além de desenvolver as atividades pertinentes às auditorias e diversos procedimentos administrativos de investigação instaurados pela Secretaria Municipal de Saúde”.

Ainda em resposta ao JB, a Secretaria de Comunicação respondeu que o expediente da Secretaria de Saúde é das 8 às 17 horas, e que Alexandre Silvério “fica à disposição em tempo integral, com dedicação exclusiva” e que, além da sede da Secretaria, “o diretor atua também no Centro Municipal de Diagnósticos, na UPA e em diversas outras unidades que compõem a Secretaria de Saúde”.

Sobre o critério utilizado para a contratação de Alexandre Silvério, a prefeitura declarou que ele “é conhecido pelo excelente atendimento prestado à população parnanguara, enquanto diretor do Hospital Regional do Litoral. Tem experiência em gestão pública e é graduado na área e está concluindo sua graduação em Direito neste ano”. De acordo com a Secretaria de Comunicação da Prefeitura, Alexandre Silvério – que é Cargo em Comissão – foi submetido a uma entrevista para o cargo e “respondeu a todos os questionamentos e apresentou algumas medidas que poderiam ser aplicadas junto à saúde (…) e vem desenvolvendo brilhante trabalho para sanar as problemáticas herdadas na SEMSAP”.

A Prefeitura afirmou, também, que Alexandre Silvério não é alvo de uma averiguação por irregularidades ocorridas no Hospital Regional e sim “é colaborador” e que a Comissão de Processo Administrativo Disciplinar “foi instalada com base nas denúncias por ele apresentadas”.

Por último, a Secretaria de Comunicação afirmou que a atual gestão da Prefeitura não tem compromisso com o erro e também aguarda a conclusão deste ato investigatório para que se apontem os culpados pelo desperdício do dinheiro público, “o que de maneira direta corroborou para a instalação do caos em que se encontra a saúde de Paranaguá”.