Fim da temporada de verão ocasiona demissão em massa nas cidades balneárias do Litoral


Por Luiza Rampelotti Publicado 07/04/2022 às 08h57 Atualizado 17/02/2024 às 05h46

O início da temporada de verão de 2021/2022 trouxe esperança para milhares de pessoas que aguardavam por uma oportunidade de trabalho. O avanço da vacinação contra a Covid-19 no país e, consequentemente, a flexibilização das medidas restritivas fizeram com que o setor comercial voltasse a crescer e, especialmente, os restaurantes e bares.

De acordo com o levantamento divulgado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em meados de novembro do ano passado, o setor deveria abrir 63,4 mil vagas de trabalho temporário entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022 no Brasil. Isso refletiu no aumento das contratações realizadas nas cidades balneárias do Litoral Paranaense: Pontal do Paraná, Matinhos e Guaratuba no período.

A melhor época de contratação nas três cidades foi em dezembro. Guaratuba liderou com 814 novos postos de emprego com carteira assinada, enquanto Matinhos abriu 716 vagas e Pontal do Paraná 416. No entanto, no mês seguinte, em janeiro de 2022, os municípios já começaram a demitir mais do que contratar. Enquanto Guaratuba contratou 324 novos trabalhadores, demitiu 432. Já Matinhos realocou 291 funcionários e demitiu 356, e Pontal do Paraná contratou 178, mas demitiu 233. As informações são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), divulgadas na terça-feira (29).

Fevereiro foi o pior mês

Desde janeiro, as demissões estão em alta por todo o Litoral. Mas em fevereiro a situação foi ainda mais crítica nas três cidades balneárias. Entre elas, Guaratuba foi a que mais demitiu, com 574 pessoas perdendo os empregos. Em seguida, Matinhos, com 367 demissões e Pontal do Paraná com 229.

O JB Litoral procurou, por meio da assessoria de imprensa da prefeitura, o prefeito de Guaratuba, Roberto Justus (União), que acumula a função de secretário de Administração e, portanto, está responsável pela Agência do Trabalhador, para falar mais a respeito da situação do mercado de trabalho no município, mas não houve retorno.

O secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico de Matinhos, José Luis Leal, também foi procurado, mas não respondeu aos questionamentos. Já o secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico de Pontal do Paraná, Gilberto Keserle, conversou com a equipe de reportagem.

Ele explica que a situação é cíclica e recorrente nas temporadas de verão. “Todos os anos há o aumento de pessoas na cidade durante o verão e, com isso, aumento na oferta de vagas e número de contratações. O comércio e as empresas de serviços buscam profissionais no mercado, mas temos consciência de que a maior parte são vagas temporárias, até porque, com o fim da temporada, o número de consumidores cai assustadoramente e há o aumento no número de demissões”, diz.

Para tentar contornar a situação e garantir fonte de renda aos pontalenses, Keserle destaca que a prefeitura procura ofertar oportunidades para capacitação profissional às pessoas que estão fora do mercado de trabalho. “Incentivamos que elas avaliem a oportunidade de empreender por conta própria, montando um novo negócio e apoiamos a instalação dessas novas empresas. Colocamos todos os serviços tanto da Agência do Trabalhador quanto da Sala do Empreendedor à disposição das pessoas interessadas”, afirma.

Estamos à beira do caos”, diz empresário de Pontal do Paraná

O empresário Gilberto Espinosa, morador de Pontal do Paraná, ressalta que o comércio local está passando por uma situação difícil. “Aqui, a única opção é o comércio, que não está bem das pernas. O fim da temporada nos remete ao inverno e, sem a Faixa de Infraestrutura e sem o porto, a atividade econômica é pífia, não garante a sobrevivência da população. Sem dinheiro na praça, estamos à beira do caos, reféns da violência doméstica, do tráfico de drogas, invasões e prostituição de todo tipo, principalmente contra as crianças”, comenta.

A Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Pontal do Paraná (ACIAPAR) tem grande participação no sentido de capacitação profissional aos moradores, buscando aumentar o número de contratados no mercado de trabalho ao longo do ano.

O presidente do órgão, Ercio Weschenfelder, ressalta que as demissões pós temporada são um fenômeno que se repete ano após ano. “Durante a temporada, nossa população aumenta em média 500%, o que nos torna uma economia sazonal, portanto, as demissões dos contratados temporariamente é uma questão de difícil resolução”, diz.

“Precisamos atrair indústrias”, destaca presidente da ACIAPAR

Ele ressalta que o município não possui indústrias para absorver toda a mão de obra local, uma vez que a economia de Pontal do Paraná gira apenas em torno do comércio. “Não consigo enxergar mudanças neste quadro à curto e médio prazo. Os nossos maiores empregadores são o comércio e a prefeitura. Precisamos, urgentemente, criar mecanismos (incentivos fiscais, entre outros) para atrair indústrias e criar novas fontes de fomento, além de investir pesadamente no turismo, com o intuito de evitar o fechamento das vagas de trabalho e evitar o êxodo dos nossos jovens que buscam uma oportunidade de trabalho em nosso município”, avalia.

Presidente da ACIAPAR destaca que o município precisa atrair indústrias para garantir novas vagas de emprego. (Foto: Diogo Monteiro/ JB Litoral)

Ercio destaca que, atualmente, o comércio local não está nem lucrando, apenas garantindo sua sobrevivência. “Até bem pouco tempo atrás, as receitas geradas durante a temporada representavam a sobrevivência das empresas durante o restante do ano. Esse quadro mudou dramaticamente, estamos saindo de dois anos de pandemia, os lucros auferidos durante a temporada 2021/2022, para a grande maioria do nosso comércio, servem apenas para cobrir os prejuízos acumulados durante os dois últimos anos. Nossa expectativa é que, com o recuo da pandemia, consigamos restabelecer à médio prazo as condições anteriores”, finaliza.