Grávida com bebê morto esperou 3 dias para retirar o feto, em Morretes; caso está sendo apurado pela SESA e prefeitura


Por Publicado 24/01/2022 às 11h59 Atualizado 17/02/2024 às 00h25
Hospital está com os leitos ocupados por pacientes infectados por Covid-19 e H3N2 e, por isso, não consegue atender outras urgências e emergências. Foto: AEN

Uma denúncia de omissão de socorro chegou ao JB Litoral por meio dos familiares de uma mulher residente em Morretes. Pessoas próximas afirmam que Bruna de Oliveira Souza, de 21 anos, descobriu na quarta-feira (19) que o bebê que esperava estava sem batimentos cardíacos, após uma consulta, na cidade em que mora. Sem ter como fazer o procedimento no Hospital e Maternidade de Morretes, a gestante foi encaminhada para o Hospital Regional do Litoral (HRL), em Paranaguá, mas recebeu a informação que não havia leitos disponíveis, devido à lotação de pacientes com Covid-19.

A mulher, que, na mesma consulta de quarta-feira, afirma ter recebido o diagnóstico de que o bebê estaria morto há pelo menos 10 dias, voltou para casa, mas, com o agravamento das dores, procurou novamente o HRL e passou pela mesma situação de ter que retornar para casa.

Com a constante reclamação, uma ambulância da cidade histórica ficou responsável por passar pela casa de Bruna, às 07h, do sábado (22), para levá-la até o hospital referência do litoral. Ela esperou o veículo, mas novamente não recebeu auxílio. Horas depois veio a resposta de que continuava sem leito na unidade para que pudesse ser atendida.

Bruna tem 21 anos e sofreu bastante nos últimos dias com a dificuldade em retirar o feto morto. Foto: Reprodução Facebook

Enquanto a reportagem falava com familiares da jovem, que sentia muitas dores, uma sobrinha, cunhada e irmã afirmaram que o caso era grave e que Bruna corria risco de morte.

Outra reclamação das pessoas próximas foi referente ao prontuário médico, já que no próprio Hospital e Maternidade de Morretes, a grávida foi avisada de que haviam perdido os dados dela e então passaram a anotar as informações em um guardanapo.

A falta de atendimento, já tendo sido constatada a morte do feto, pode ser enquadrada como omissão de socorro, pois o artigo 135 do código penal diz que é crime “deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo”.

No mesmo dia em que o JB Litoral entrou em contato com as Secretarias de Saúde municipal e estadual e com a direção do Hospital Regional, Bruna foi encaminhada até a unidade de tratamento para atendimento e realização de exames.

Instituições se manifestam

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Saúde de Morretes para entender o que houve com a jovem e porque ela precisou ser tantas vezes transferida ao Hospital Regional.

De acordo com o secretário de Saúde, Aaronson Ramathan, as transferências de pacientes com quadros parecidos é necessária por não haver anestesista para esse tipo de procedimento no hospital do município.

O hospital local não tem anestesista especializado nesse procedimento médico e, por isso, ela precisou ser encaminhada para Paranaguá. Foto: Diogo Monteiro/ JBLitoral

O HRL informou que não havia, nos últimos 10 dias, nenhum documento sinalizando que Bruna esperava por um leito. A unidade também ressalta que estava com 8 gestantes que ganharam bebês, esperando vaga na maternidade.

A fila vem ocorrendo devido à superlotação da unidade por casos de Covid-19 e H3N2. Mas, o hospital se comprometeu a ajudar com máxima urgência na resolução do caso e, no mesmo dia, internou Bruna.

A SESA, informou que a situação está sendo apurada e que estava em contato com a direção do Regional para entender o caso e auxiliar na solução do problema. A Secretaria de Estado também classificou como “suposições” os relatos de familiares e afirmou que só confirmará essa situação clínica, após realizar todos os exames.

Ainda na noite do sábado, a SESA entrou em contato com a reportagem para avisar que Bruna estava passando por atendimento no HRL. “A paciente já está sendo atendida no Hospital Regional do Litoral.  A unidade está com um considerável aumento na demanda pelo período de veraneio, bem como de casos suspeitos de Covid-19 e H3N2 ou confirmados. As equipes estão empenhadas na rápida assistência e resolutividade no atendimento”, informou.

O secretário Aaronson também esclareceu que a prefeitura vai investigar o que causou a demora. “Ainda estamos apurando no município onde aconteceu o erro. Estou entrevistando vários servidores para saber exatamente o que houve. Provavelmente foi erro de comunicação”, concluiu o gestor da saúde ao ressaltar que novidades sobre o caso serão comunicadas ao JB Litoral.

A cirurgia de retirada foi realizada com sucesso na noite de sábado e, até o fechamento desta reportagem, Bruna de Oliveira Souza estava bem, mas ainda não havia recebido alta.