Homem sofre racismo em Paranaguá por ser parecido em “tom de pele” com suposto ladrão


Por Publicado 19/11/2021 às 18h09 Atualizado 16/02/2024 às 19h41

Atualização: A Empresa Nissei se manifestou nesta segunda-feira (22) através de nota. O conteúdo completo você confere ao final da reportagem.

Uma história de violência racial tem repercutido em Paranaguá, principalmente por ocorrer durante a semana da Consciência Negra, que é uma data celebrada no dia 20 de novembro.

De acordo com o Grupo Scremim, que é responsável por empresas na cidade, um de seus funcionários, o jovem de 23 anos chamado Jhonatan Miranda de Souza, que trabalha no Eleven Gastrobar, foi vítima de racismo ao passar em frente a Farmácia Nissei, no Centro.

O fato, que ocorreu na quarta-feira (17), teria sido originado por um alarme do estabelecimento, enquanto Jhow, como é conhecido, passava pela rua. Mesmo não tendo entrado no local, o jovem foi abordado por seguranças que o acusaram de furto e revistaram sua mochila.

Ao voltar a drogaria para questionar o ocorrido, Jhow ouviu que um outro rapaz passou a cometer crimes no espaço e que ambos têm características físicas parecidas, como a barba e era “mais ou menos moreno como tu”, teria dito o gerente. Por essas semelhanças que o rapaz acabou sendo abordado.

Nas redes sociais, o Grupo Scremim divulgou uma nota repudiando o ocorrido e ressaltando ser lamentável que uma acusação grave como essa ocorra em 2021. “O episódio não é um ato isolado, ou seja, traduz inquestionavelmente o racismo estrutural e presente na sociedade, que segrega, marginaliza e oprime, perpetuando a desigualdade”, diz a resposta pública.

Advogado promete ação judicial

Em entrevista ao JB Litoral, o advogado de Jhow, Hezron Manoel Scremim Figueiredo relata que já houve a confecção de um Boletim de Ocorrência (BO) por injúria racial, que virou inquérito e, na próxima semana, entrarão com uma ação indenizatória, com pedido de retratação pública. “Não adianta só pedir uma indenização material, se os efeitos [dessa eventual punição] não atingirem outras pessoas. Eles precisam aprender que não se pode falar tudo que se passa na nossa cabeça. Precisamos respeitar as pessoas”, explica.

Sobre o posicionamento da empresa, Hezron afirma que o departamento pessoal (RH) da Nissei entrou em contato para questionar qual teria sido a unidade e se havia provas do ocorrido. A promessa foi de que haverá uma sindicância e que uma das possíveis consequências é a demissão do funcionário que fez a fala racista. Mas não houve pedido de desculpas ao ofendido.

Tanto Jhow quanto seu advogado relataram que após a repercussão do caso nas redes, passaram a receber denúncias de agressões verbais que outras pessoas teriam sofrido.

Em outubro, o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou o crime de injúria racial (quando a agressão é direcionada a uma pessoa) ao de racismo (quando se refere a um grupo, etnia ou classe). Portanto, a violência torna-se imprescritível e passa a ter penas mais duras. Nesta quinta-feira (18) o Senado Federal foi na mesma linha e aprovou uma lei que altera o Código Penal e tipifica os dois crimes como iguais.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Nissei e recebeu uma nota sobre o ocorrido. Confira abaixo:

“A Rede de Farmácias Nissei possui como um dos seus principais valores o respeito, o qual defendemos diariamente junto a todos os nossos colaboradores, parceiros, fornecedores e clientes. Somos uma empresa de mais de 6.000 colaboradores, presente em mais de 80 municípios, um universo de pessoas que representa uma grande diversidade de etnias, credos e convicções e, por isso, repudiamos qualquer tipo de discriminação e atitudes preconceituosas. Desta forma, assim que tomamos conhecimento do fato relatado, iniciamos os nossos procedimentos de averiguação junto aos envolvidos para a validação das medidas cabíveis.”

O caso segue sendo acompanhando pelo JB Litoral.