Mães “se viram” para ajudar filhos em aula, sem previsão de escola presencial


Por Redação Publicado 16/04/2021 às 13h28 Atualizado 15/02/2024 às 23h13
mãe filho estudo

Por Brayan Valêncio

O agravamento da crise de Covid-19, com mais casos e óbitos, adia mais uma vez o retorno das aulas presenciais, deixando preocupados pais, professores e pesquisadores da área de educação. Paranaguá adotou, no ano passado, um sistema on-line para alunos da rede municipal, com a expectativa de suspender a oferta de conteúdo virtual quando a situação melhorasse. Contudo, a Secretaria Municipal de Educação e Ensino Integral (Semedi) informou que o sistema educacional permanecerá a distância. Segundo o informe epidemiológico do Governo do Estado, na quinta-feira (08), Paranaguá se encontra proporcionalmente como a terceira Regional de Saúde a ter mais casos confirmados e a segunda, em número de óbitos devido à Covid-19.

Para responsáveis por crianças, que frequentavam as aulas nos colégios da cidade, a pandemia dificultou o aprendizado e tem sido necessário fazer “malabarismo” para auxiliar os pequenos nas atividades escolares. A empresária Patrícia Passos, mãe de Davi, de 10 anos, avalia que 2021 tem sido mais complexo do que o começo da pandemia. “Já viemos de um ano complicado e agora está sendo mais difícil. Não é fácil manter o foco da criança nas atividades quando se tem tantas distrações em casa”, conta.

Patrícia relata que a dificuldade é ainda mais agravada pelo fato de o filho ter transtorno de déficit de atenção. Apesar das dificuldades para fazê-lo estudar, a mãe de Davi vê como essencial a forma como a Escola Municipal Leôncio Correia vem cuidando do processo educativo. “Não tenho o que reclamar. As professoras e a equipe da escola sempre estão disponíveis para sanar dúvidas, principalmente via aplicativo de mensagem”, afirma.

Com auxílio a distância, Davi precisa se concentrar para conseguir absorver o conteúdo das aulas. Foto: Diogo Monteiro JB Litoral

Escola se faz presente

Uma situação semelhante é vivida pela manicure Gisele Oliveira, mãe de Sarah, de 6 anos. Como a menina está em um período primordial para a alfabetização, manter o aprendizado em casa é uma tarefa difícil. Sarah faz as atividades enviadas pelo colégio, usando o celular de sua mãe, o que não é ideal para a faixa etária da menina. “Minha filha recebe apenas tarefas pelo whats. Então, sinto que ela está bem atrasada no desenvolvimento escolar”, diz. Apesar disso, Gisele também afirma que a escola está se fazendo presente e tem cobrado bastante o envio de todas as atividades.

Sobre a volta das aulas presenciais, as mães têm opiniões distintas. Gisele vê como essencial o regresso e torce para que seja o quanto antes. “[Eu espero que as aulas retornem] o mais rápido possível. As escolas precisam voltar porque é muito importante a socialização das crianças, esse contato de umas com as outras. E, também, porque a sala de aula já é um ambiente próprio criado para a criança”. Já Patrícia acredita que, mesmo em meio a tantas dificuldades, as condições não são as melhores para a volta dos pequenos. “Infelizmente eu acredito que ainda vai demorar para termos segurança em mandar as crianças para o ambiente escolar. Para este momento, eu concordo com as aulas a distância porque não tenho segurança em mandá-lo para a escola no ensino presencial”.

Alternativas e aproveitamento


A vereadora Vandecy Dutra (PP), atual presidente da Comissão de Educação, Saúde e Meio Ambiente da Câmara Municipal e ex-secretária de Educação do município, acredita não estar sendo um momento fácil para os professores. “O trabalho dobrou, [entre as novas atividades estão] elaboração de videoaulas, atendimento fora do horário de trabalho, sem contar que o uso da tecnologia lhes exigiu tempo extra para aprender”. A vereadora diz não conseguir mensurar o rendimento das atividades remotas por não ter os dados oficiais sobre os “resultados, quantos foram atendidos, se houve aproveitamento, se as famílias conseguiram dar conta, entre outras questões”. A reportagem entrou com um pedido de esclarecimento via Lei de Acesso à Informação cobrando os dados mencionados pela vereadora.

A secretária de Educação do município, Tenile Cibele, afirma que a pasta não parou durante todo o período de pandemia e que é um momento desafiador. Ela destaca que, mesmo em trabalho remoto, a secretaria tem encaminhado e conduzido todas as ações que as escolas devem realizar para as diferentes idades. “As aulas para a Educação Infantil têm sido desenvolvidas por meio de propostas de interação e vivências, nas quais os pais ou responsáveis são convidados a realizar junto com os estudantes. Já os alunos do Ensino Fundamental realizam as atividades propostas nos livros, atividades impressas ou até mesmo em meios tecnológicos. Nesse período mais crítico das contaminações, todas as atividades são encaminhadas via on-line e as orientações para realização são enviadas por meio de vídeo, áudio ou videoconferência”.

Sobre o resultado das atividades on-line e o acompanhamento dos estudantes, a secretária afirma haver uma equipe de gestores que busca alternativas frequentes para alcançar todas as crianças que realizam as atividades não-presenciais, enquanto não for possível garantir uma data definida de retorno às salas de aulas.


Ainda não conseguimos prever uma data para o retorno, mas estamos esperançosos que em breve possamos estar com todos os nossos profissionais vacinados e, assim, retornarmos com segurança”.

Tenile Cibele, Secretária de Educação Municipal.

Secretária de Educação do Município espera vacinar os professores com a máxima urgência
para poder retornar às aulas presenciais. Foto: Divulgação

Rede Estadual manterá o sistema on-line

A Secretaria de Educação e do Esporte do Paraná (SEED) afirma que o calendário da rede estadual de ensino foi iniciado no dia 18 de fevereiro, em todos os municípios. Segundo a secretaria, as atividades escolares continuam a distância, com média de 130 mil aulas diárias, por meio de aplicativo. “As aulas permanecem totalmente remotas por meio do Aula Paraná (TV aberta, Youtube e aplicativo) e de videochamadas entre professores e alunos, pela plataforma Google Meet”.

As salas de aula em Paranaguá não recebem alunos desde o início de 2020, quando houve o
decreto de Pandemia COVID-19. Foto: Divulgação


Para o professor Edson Gatto, que atua na educação de jovens e adultos em Paranaguá pela rede estadual, o trabalho remoto tem sido muito cansativo e pouco produtivo.

No meu caso, tenho 30 aulas por semana. Então tenho que fazer 30 meets de, no mínimo, 40 minutos cada um. O problema é que a participação tem sido mínima dos alunos, já que a média é de cinco a sete alunos e, às vezes, menos”.

O professor explica que a preparação das aulas remotas demanda muito tempo e, além disso, é necessário manter o aplicativo Classroom com as aulas em dia, para aqueles alunos que não acompanham em tempo real as atividades, e também é necessário dar atenção aos estudantes sem acesso à internet.

Eu atendo alunos da sala de recursos, então tenho que preparar material adaptado para eles, temos ainda que manter o RCO, que é o registro de classe on-line, em dia. Além de corrigir as postagens dos alunos no Classroom e dar um retorno. Temos, claro, que corrigir o material impresso e também fazer uma devolutiva e, muitas vezes, acabamos atendendo alunos pelo WhatsApp e por e-mail”.

Trabalho em dobro na pandemia

Segundo Gatto, a pandemia fez com que os professores trabalhassem o dobro, já que as atividades pedagógicas e conselhos também se mantêm neste período. O professor pós-graduado em produção e recepção de textos vê como “equivocado” o sistema adotado pela Secretaria da Educação em 2021, porque há menos participação já que os alunos também estão cansados de passar horas diárias em frente ao celular ou computador acompanhando as atividades escolares.

Ano passado, quando atendemos os alunos pelo Classroom, Messenger, WhatsApp ou pelo e-mail, a participação era bem maior e, me parece, mais produtiva. Tenho procurado realizar sempre aulas interessantes, mas é frustrante quando pouquíssimos alunos participam. Após 40 dias trabalhando nesse sistema, a gente percebe um cansaço na vista, dor de cabeça e na coluna, já que passamos muito tempo sentados. Chega a fazer calo nos punhos e, no final do dia, a gente sente dor nas juntas dos dedos”, pontua o professor, que vê como “triste” a forma como a secretaria tem tratado os educadores, afirmando que não recebem apoio com recursos tecnológicos, tendo que se virar com a própria internet, computador, celular e outras necessidades do trabalho on-line.

Maior controle dos Núcleos

Sobre o acompanhamento dos alunos e professores, a secretaria informa que diretores e coordenadores passaram a utilizar, em 2021, uma ferramenta de gestão que monitora quantas aulas são lecionadas, quantos alunos participam das aulas, qual a frequência de cada aluno, quais atividades cada aluno realizou e como foi o desempenho nessas tarefas. Para a SEED, esse sistema permitirá maior controle das atividades de cada um dos Núcleos Regionais da Educação, de todos os 399 municípios e até de cada turma ou aluno específico.

No primeiro mês de videochamadas em 2021, a secretaria computou 950 mil meets, com o recorde sendo batido no dia 15 de março, sendo mais de 114 mil aulas em um único dia, números que fazem a secretária considerar o sistema como “eficaz” e “caminho a ser seguido”.

Na resposta enviada ao JB Litoral, há um comentário feito pelo secretário de Educação do Paraná sobre a ferramenta de monitoramento das atividades. “A gente consegue ver todas as aulas que foram e que não foram dadas; professor a professor, sala a sala, escola a escola. Ao acompanhar isso, conseguimos ver se estamos sendo eficazes e pensar no que fazer para melhorar”, diz Renato Feder.

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