“Minha filosofia de vida é viver um dia de cada vez”, conta Mariana Coelho, diagnosticada com câncer aos 40 anos


Por Luiza Rampelotti Publicado 04/02/2022 às 16h53 Atualizado 17/02/2024 às 01h13
Mariana Coelho está enfrentando um câncer de útero que se alastrou por todo o abdômen.

O diagnóstico de câncer é chocante para qualquer pessoa. Mas, imagine levar uma vida saudável, praticando exercícios físicos, sem cigarro e bebida alcóolica, sem casos anteriores na família e, ainda assim, descobrir um tumor maligno?

Foi o caso de Mariana Amates França Coelho que, aos 40 anos, em setembro de 2019, descobriu que estava com um câncer no útero que se espalhou por todo o abdômen. O diagnóstico anterior, de mioma no útero, estava equivocado e, por conta da técnica de retirada, alastrou os tumores pela região abdominal.

“Fui diagnosticada com um mioma de tamanho grande e, então, fiz a histerectomia total, que é a retirada do útero. Não havia suspeita de câncer, apenas mioma, mas, quando recebi por e-mail o resultado do exame anatomopatológico da cirurgia, pude compreender que se tratava de algo maligno”, relembra Mariana.

Ela conseguiu entender o exame, que consiste na análise macro e microscópica de fragmentos do órgão submetido ao procedimento cirúrgico, pois já atuava na área da saúde. Sendo dentista, ela tem familiaridade com os termos médicos e consegue fazer uma leitura mais precisa dos resultados de exames.

“Aquele momento eu tive um choque. Nunca imaginei que poderia ter câncer, pois passei a vida inteira praticando atividade física, me cuidando com relação à alimentação, nunca fumei, nem bebia frequentemente, sem histórico familiar. Parecia mentira”, conta.

Casada e mãe de duas filhas, na época com 13 e 11 anos, Mariana só conseguia pensar nas meninas. “Foi uma situação estranha, que parecia mentira, porque ao mesmo tempo em que eu me sentia fisicamente bem, eu comecei a ir nas primeiras consultas com o oncologista. Pensar nas minhas filhas era um baque e, no começo, a maior dificuldade foi essa”, diz.

Mariana descobriu o câncer em 2019, aos 40 anos.
Mariana descobriu o câncer em 2019, aos 40 anos.

6 cirurgias até o momento

Após a primeira cirurgia, em que retirou o útero, cerca de um mês e meio depois ela passou por outra para realizar uma biópsia na região. Três meses depois, mais uma, para a retirada de um nódulo palpável. “Ficaram outros nódulos, mas, em Curitiba, me disseram que não dava para retirá-los. Então, comecei a quimioterapia, mas fui desenganada pelos médicos, porque o tumor havia crescido muito”, conta.

Mariana e sua família não aceitaram que não havia mais nada a ser feito e, então, partiram em busca de um novo médico e tratamento. “Em São Paulo encontrei um médico que me operou novamente, abriu a barriga inteira e tirou 8 quilos de tumor. Comecei uma nova batelada de quimioterapias e, passado isso tudo, fiz outra cirurgia de correção no abdômen, por conta de uma hérnia devido a tantas cirurgias”, afirma.

Com o fim das quimioterapias, em setembro de 2020, Mariana se manteve por um ano e meio com exames bons, vivendo normalmente, com a esperança de que o tumor tivesse ido embora. No entanto, em dezembro de 2021, ela apresentou novos nódulos.

“Nesses últimos dois meses, fiz uma nova cirurgia na região abdominal, retiraram o tumor, parte do intestino e bexiga, e voltei ao processo de quimioterapia. Não é fácil, acho que a recidiva do câncer é ainda mais difícil, pois você sabe de tudo o que passou, as dificuldades. Mas estou aqui, na luta, bem cansada, debilitada, no entanto, sem perder a esperança”, comenta.

A fé foi o escape

Para buscar superar o momento trágico, ela se apegou a fé e religião. Confiando em Deus e acreditando que nada acontece por acaso, ela concluiu que tudo o que estava vivendo era necessário para um aprendizado futuro.

“Claro que, num primeiro momento, ninguém pensa assim. Eu também questionei, me culpei perguntando o que eu fiz para merecer isso. Mas, então, percebi que tudo o que dependia de mim para evitar a doença foi feito e que se ela chegou na minha vida eu deveria viver. A partir daí, a fé foi minha melhor amiga e tem me ajudado a me concentrar para levar a vida”, conta Mariana.

Hoje, ela aderiu a “viver um dia após o outro” como filosofia de vida. Sem procurar causas no passado, sem pensar no futuro, apenas viver um dia de cada vez, enfrentando a árdua batalha de conviver com o câncer.

Com essa consciência, ela percebeu que poderia ajudar outras pessoas que estão passando pela mesma situação e se voluntariou na Rede Feminina de Combate ao Câncer, em Paranaguá. “Com a minha experiência, passei a sentir vontade de ajudar as pessoas que estão precisando e comecei a fazer palestras contando não só a minha história com o câncer, mas, principalmente, levando a todos a importância do tratamento humanizado aos pacientes com câncer, pois o carinho, o amor, o cuidado, salvam e fazem toda a diferença”, diz.

O amor fortalece

Hoje, Mariana continua em uma batalha física contra o câncer. As sessões de quimioterapia a que ela está sendo submetida afetam todas as áreas do corpo e, também, da alma.

“A quimio mexe com o paladar, deixa a gente enjoada, fraca, nos torna irreconhecível e mexe demais o físico, como a perda de cabelo e de todos os pelos, sobrancelhas, mas, especialmente, com o emocional, porque ficar debilitado por muito tempo é difícil demais. Felizmente, eu tenho minha família ao meu lado, meu marido maravilhoso que está sempre comigo, minhas filhas participando de tudo, os amigos, pais, irmãos. O amor de todo mundo é o que me fortalece”, comenta.

Apesar de toda a dificuldade, Mariana destaca que, hoje, seu principal objetivo de vida, dia após dia, é levar às pessoas que atravessam o câncer uma mensagem de esperança. “Existe vida após o diagnóstico, é possível continuar vivendo e temos que ter fé. Meu desejo é que ninguém perca a esperança e viva um dia após o outro”, conclui.