Moradores fazem corrente humana e protestam contra Aterro em Alexandra


Por Marinna Prota Publicado 03/11/2021 às 11h15 Atualizado 16/02/2024 às 18h10

Moradores da região do Rio das Pedras no bairro de Alexandra em Paranaguá vivem mais uma vez o drama causado pela poluição. Um vazamento de chorume em uma das barragens de contenção acabou atingindo um córrego que passa por trás de diversas casas no dia 25 de outubro. O mau cheiro e a degradação da água causaram impactos na vida da população e o JB Litoral vem acompanhando o caso de perto desde então.

Nesta quarta-feira (3) os munícipes continuam realizando um protesto, impedindo que caminhões de lixo, que segundo os moradores são apenas de caliças, madeira e restos de construção, de passarem pela via para ter acesso ao Aterro Sanitário administrado pelo CIETEc – Complexo Industrial Ecotecnológico. “Por enquanto, está tudo do mesmo jeito, não tem motivo para tumulto. Alguns prefeitos estão tentando inibir essa barreira, mas vamos continuar. Pois não tem tempo para ser desfeita. As caçambas de Paranaguá estão passando sem problemas, a coleta seletiva segue sendo feita e passa, é apenas esse tipo de lixo de construção que estamos barrando”, afirmou Carlos Alberto Cordeiro dos Santos.

(foto: Diogo Monteiro/ JB Litoral)

Ao JB Litoral, o vereador Oséias Bisson, do Podemos, se mostrou indignado com a falta de retorno da empresa, que deixou de atender os representantes da comunidade e proibiu a entrada de políticos no Aterro Sanitário para realizarem a fiscalização do local. “É uma manifestação legítima, tem todo direito de responsabilizar a empresa pelos danos ambientais, já que é o quinto acidente que acontece ali. Nós aqui de Alexandra estamos sofrendo muito com esta empresa, agora é o nosso acesso, estão destruindo o acesso de Alexandra. A empresa não tem responsabilidade”, falou o vereador.

A equipe de reportagem tentou contato com a CIETEc mais uma vez, no entanto novamente não obteve retorno. Nas ligações, apenas a recepcionista atende o telefone, mas não repassa para nenhum diretor ou responsável. O Ministério Público do Paraná (MPPR) através da promotoria de Meio Ambiente prometeu firmar uma Notícia de Fato e iniciar a investigação da empresa, suas licenças e demais problemas ambientais em que ela está envolvida.

Prefeituras pedem passagem

Por conta do protesto, os municípios que enviam o lixo para a região decretaram que a situação está prejudicando a coleta. Em nota, a prefeitura de Morretes disse que “os manifestantes estão impedindo a entrada de “caminhões de lixo” no Aterro Sanitário. No dia primeiro de novembro, os Municípios atendidos pela CIETec, tentaram acessar o local com auxilio da Polícia Militar, para descartar os resíduos coletados. No entanto, os moradores conseguiram impedir a entrada por meio de “Corrente Humana”.

O prefeito da cidade, Sebastião Brindarolli Junior (PSD), afirmou que está buscando meios legais de conseguir liberar a passagem de seus veículos. Ainda em nota, a administração pública de Morretes pediu desculpas à população. “Solicitamos, encarecidamente, pela compreensão da população morretense, estamos trabalhando incansavelmente para regularizar esta situação o mais breve possível sem causar transtornos aos cidadãos e à saúde pública”, conclui o texto da prefeitura de Morretes.

O que diz o Ministério Público?

Reconhecidamente a empresa que administra o Aterro Sanitário que atende a região de Paranaguá e demais cidades possui histórico de problemas ambientais provenientes da operação. Em 2020, uma ação contra a empresa administradora do local foi proposta pelo órgão e em decisão proveniente de agravo de instrumento a desembargadora Regina Afonso Portes determinou que “o IAP que se abstenha de dar prosseguimento a qualquer pedido de licenciamento ambiental que vise ampliar o aterro sanitário mantido pela empresa agravante”.

Segundo promotor de justiça da 2º Promotoria do Meio Ambiente de Paranaguá, André Luiz de Araújo, “a gente vai analisar a questão da licença nos próximos dias, vai ser levado em conta todas as questões atreladas ao funcionamento da empresa. Por isso, este procedimento será analisado dentro do procedimento que será instaurado a partir da denúncia do vazamento”.

Ele ainda explicou que “essa questão do vazamento ela chegou bem recentemente ao conhecimento do Ministério Público e a gente vai analisar e dar prosseguimentos nos próximos dias. Vou instaurar uma Notícia de Fato e requisitar informações ao IAT e a empresa CIETEC, depois analisar os desdobramentos para iniciar uma ação. Em paralelo a isso, verificar quais crimes ambientais eventualmente ocorrer no local para dar prosseguimento a o registro de um Boletim de Ocorrência ou Termo Circunstanciado. Mas essa região já é acompanhada pelo Ministério Público em outros procedimentos, inclusive estou em contato com a dra. Dalva responsável pelo Gaema para fazermos uma ação coordenada na região”.

“O fato é que mais uma vez, ocorreu um vazamento, e mais uma vez houve danos ao meio ambiente, como mostram os vídeos que estão circulando em noticiários e redes sociais. Há danos também à qualidade de vida dos moradores das proximidades.  Vamos exigir que os órgãos ambientais façam seu trabalho e que a saúde da população seja preservada”, pontuou o vereador Oséias Bisson.

Procuramos o Instituto Água e Terra (IAT), responsável pela fiscalização deste tipo de dano ambiental, que informou que acompanhou com uma equipe o início dos protocolos de recuperação da região após o vazamento. Além disso, amostras foram coletadas para identificar o tamanho do impacto causado. Ao JB Litoral, a assessoria de imprensa informou que o laudo das análises pode demorar até 30 dias para ficar pronto e que “ainda não se pode afirmar que o produto é proveniente do Aterro Sanitário, a conclusão se dará após o resultado do laudo”.