“Não quero ir só em reunião”, diz Michele Caputo, nomeado conselheiro da Itaipu Binacional


Por Flávia Barros Publicado 14/04/2023 às 02h39 Atualizado 18/02/2024 às 09h10
Enquanto deputado estadual, Caputo auxiliou com indicações de recursos para as áreas de saúde, infraestrutura e educação no Litoral. Foto: Arquivo/JB Litoral

Farmacêutico de Maringá, no noroeste do estado, Michele Caputo Neto (PSDB), 60 anos, dedicou os últimos 39 anos à gestão pública, seja no Executivo, como secretário estadual da Saúde e municipal, em Curitiba, ou no Legislativo, quando exerceu o mandato como deputado estadual pelo PSDB, de 2019 ao início deste ano, entre outros cargos em empresas públicas. O paranaense foi nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no último dia 5, para compor o Conselho de Administração da Itaipu Binacional. Único dos conselheiros que não é Ministro, Caputo passou a integrar o órgão normativo, deliberativo e de decisão da Itaipu desde 6 de abril, quando a nomeação foi divulgada no Diário Oficial da União.

O Conselho de Administração da Itaipu é composto por 12 pessoas, sendo seis do Brasil e seis do Paraguai, além de dois representantes do Ministério de Relações Exteriores, um de cada país. Os diretores-gerais brasileiro e paraguaio também compõem o colegiado. Caputo é o segundo paranaense nomeado, depois de Enio Verri (PT), que assumiu como diretor-geral brasileiro.


RECONHECIMENTO


O JB Litoral conversou com o novo conselheiro. Caputo enfatizou que a Itaipu é uma empresa estratégica para o Brasil, para o Paraná e que se sentiu honrado em ser o único não ministro a ser nomeado. Para o social democrata, o convite representa um reconhecimento à sua trajetória ao longo de quase quatro décadas. “É uma trajetória que envolveu pessoas com quem sempre me relacionei, independente da questão política e eleitoral, com muita dignidade e respeito. Atualmente, tenho me posicionado muito próximo a pessoas importantes nessa relação com o governo federal, como o presidente do PT do estado, Arilson Chiorato, que foi meu colega de Alep. Também atuei sete anos e três meses no Conselho de Administração da Sanepar e, ao todo, são quase 39 anos de gestão pública, sendo sete anos como secretário de estado“, disse.

O novo conselheiro da Itaipu também creditou a aproximação entre PSDB e PT, no estado, devido a afinidade de pautas, e citou a questão da venda da Companhia Paranaense de Energia (Copel). “Grande parte do meu partido é contra a venda da Copel, principalmente porque, no nosso entendimento, falta transparência, discussão, debate etc. Foi muito corrido e atropelado, no final do ano passado. É uma empresa eficiente, lucrativa, enxuta, que continua fazendo investimentos, para que vender agora e tão rapidamente?“, questionou.


DE ONDE MENOS SE ESPERAVA


O diretor-geral do lado brasileiro, Enio Verri, também é um maringaense e Michele Caputo afirma que se conhecem há bastante tempo e têm uma relação de muito respeito. “Então, me sinto muito honrado, porque quem apoiei no passado não reconheceu meu trabalho, e esse reconhecimento à minha trajetória, minha capacidade gestora, veio dos meus adversários. Eu nunca, independente do valor do salário [um conselheiro da Itaipu recebe R$ 27 mil], aceitaria participar de um governo que não fosse democrata, que não respeitasse direitos individuais e coletivos, que não tivesse compromisso com a democracia, respeitando os demais poderes, que é o que vejo nesse governo“, defendeu. “E, volto a dizer, ter o reconhecimento de quem foi teu adversário é melhor do que os aliados que te traíram“, ponderou Caputo.

O social democrata defende, ainda, que a própria trajetória, como a postura recente ao defender a vacina durante a pandemia de Covid-19, fez com que ele se aproximasse do PT, mesmo sendo ligado ao PSDB. “Temos pautas comuns e isso pode, em cada município, ser transformado em alianças nas próximas eleições. Isso não quer dizer que estamos discutindo isso agora, é muito prematuro. Ainda não tivemos discussões internas, os diretórios municipais só serão iniciados em agosto“, defendeu, mas já deixando escapar quais seriam suas preferências.

O PSDB, se dependesse da minha vontade, teria um candidato próprio, que seria o deputado federal Beto Richa. Mas se o Beto não quiser, e o Luciano Ducci, do PSB, quiser, ele é meu amigo pessoal há 30 anos e eu o apoiaria, como já o fiz. Então, não estamos discutindo nomes e cidades, e sim uma aliança em defesa dos paranaenses e do estado“, revelou ao JB Litoral.

A primeira reunião do Conselho recém nomeado está marcada para o dia 28 deste mês. Caputo contou que chegará um dia antes para conhecer a pauta. “Solicitaram a minha colaboração, a qual não posso revelar muitos detalhes, mas eles querem fortalecer convênios com municípios do Paraná, inclusive do Litoral, para discutirmos questões sociais e ambientais, porque há um entendimento de que é preciso investir e trabalhar nisso. Então, esse meu perfil de gestor na área pública vai agregar nessa nova caminhada e não quero ser conselheiro de ir só em reunião. Quero participar ativamente. Vou seguir as diretrizes da direção-geral, porque fui indicado pelo Presidente da República, independente de termos sido adversários políticos, mas sempre houve um grande respeito mútuo“, explicou.


APOIO DO LITORAL


E quando o assunto foi o Litoral, Michele Caputo demonstrou gratidão. “Tenho um carinho imenso pelo Litoral, fui muito bem votado em Guaraqueçaba, aumentei minha votação em Paranaguá, em Pontal, em Matinhos e Guaratuba. Se dependesse da região, eu teria sido reeleito e não ficado de suplente. Então, o local precisa desse olhar pela Itaipu, que tem muito recurso, tem condição de financiamento e o compromisso do diretor-geral, Enio Verri, de apoiar os municípios paranaenses“, finalizou.

Parceria reforçada pelo presidente da Câmara de Paranaguá, Fábio Santos (PSDB). “Fico muito feliz em saber que um amigo de Paranaguá estará integrando o Conselho de uma das mais importantes empresas de nosso País. Tenho certeza de que o conhecimento político do Caputo, e a sensibilidade do nosso ex-deputado com as causas que interessam ao Paraná, serão fundamentais para as melhores tomadas de decisões da empresa do ramo de produção de energia nacional“, falou o parlamentar.

Social democratas, Michele Caputo e o vereador Fábio Santos são parceiros em Paranaguá. Foto: Diogo Monteiro/JB Litoral

Torcida e alegria também compartilhadas pelo vereador de Guaraqueçaba, Thuca da Saúde (PSDB). “Fiquei imensamente feliz com a nomeação desse grande amigo e parceiro do município de Guaraqueçaba. Sei do seu comprometimento com tudo que se propõe a fazer. A nossa Itaipu, líder mundial em geração de energia limpa e renovável, terá em seu Conselho um homem que luta e se compromete com as causas da sociedade. Guaraqueçaba sempre de braços abertos para esse grande líder!”, disse.


MANDATO


Segundo o regimento interno da Itaipu, os conselheiros exercem seus mandatos por um período de quatro anos, podendo ser reconduzidos. A qualquer momento, os respectivos governos podem substituir os conselheiros que tiverem nomeado. O sucessor cumprirá o prazo restante do mandato do Conselheiro anterior.