O dia em que o mar engoliu Guaratuba e a população teve medo que “a cidade afundasse”


Por Redação Publicado 29/04/2021 às 18h18 Atualizado 16/02/2024 às 00h54
praça dos namorados guaratuba

Por Marinna Protasiewytch

Guaratuba completa, neste mês de abril, 250 anos de existência. A cidade, que é uma das referências no litoral paranaense, é cheia de histórias e fatos que a tornam única. Relembrando momentos históricos, chegamos ao dia 22 de setembro de 1968. Naquela noite, muitos moradores relembram um episódio trágico.

“Na noite de 22 pra 23 de setembro de 1968, às 10 horas da noite, as luzes começaram a piscar na nossa cidade. De repente, a luz apagou de vez e algumas pessoas então começaram a ouvir um senhor, que hoje já falecido, proprietário de um ponto de taxi em frente à baía de Guaratuba. Ele observou que um píer, que tínhamos ali na frente, estava afundando, onde ancoravam os barcos que vinham da área rural”, relembra a secretária de Cultura da Cidade, Maria do Rocio Bevervanso.

“No ponto de vista dele esse píer fatiava e afundava e, de repente, começou a tomar uma dimensão imensa, apavorando-o. Imediatamente, ele fez um ato, que provavelmente tenha salvo as famílias naquela noite, porque começou a bater nas casas das pessoas avisando que a cidade estava afundando”, detalhou.

Segundo relatos em jornais da época, 35 casas foram atingidas pela catástrofe e cerca de 170 famílias ficaram desabrigadas. “A gente observava que as luzes piscavam, os ventiladores soltavam do teto nas residências, os pisos soltavam do chão, os azulejos saltavam das paredes, e, logicamente, a gente não imaginava que isso poderia ser um movimento de solo e que traria então a dimensão do problema”, relembrou Rocio.


A trágica noite se transformou em história da cidade que completa 250 anos

“Maldição jogada”

Alguns dos moradores acreditaram que o que aconteceu com a cidade teria ocorrido por conta de uma maldição. No local, onde a terra desmoronou, havia um pelourinho, utilizado para punir escravos.

“Essa história da lamúria dos escravos se dá hoje como uma lenda. Em frente à cadeia antiga, mais tarde, em 1947, transformada na prefeitura municipal de Guaratuba, havia um pelourinho. Os escravos, provavelmente presos, por estarem sendo judiados e sacrificados, jogaram essa maldição na cidade. Conta-se que, por causa disso, eles teriam feito uma profecia, de que o município desapareceria nas águas da baía”, explicou a historiadora.

Porém, por ausência de registros, não é possível comprovar a “lamúria dos escravos”, mas a trágica noite de 68 trouxe à tona, para os munícipes, esse conto. Por se tratar de uma cidade costeira, os registros mostram que foi uma movimentação de força natural, que acabou causando a erosão do solo por meio da força da água.

Agora, no local, fica a praça dos Namorados, tida como um dos pontos mais bonitos da cidade para ver o entardecer e o pôr do sol.