Rebocadores querem volta da escala anterior à pandemia, mas encontram resistência


Por Katia Brembatti Publicado 14/09/2021 às 16h24 Atualizado 16/02/2024 às 13h19

Alguns reflexos de adaptações feitas quando a pandemia do novo coronavírus foi decretada, em março do ano passado, impactam até hoje o trabalho de rebocadores, profissionais encarregados de auxiliar na condução dos navios na baía de Paranaguá. E eles querem voltar às condições anteriores à Covid-19, acreditando que, a partir da vacinação em massa, não há mais motivos para manter regimes diferenciados de atuação.

A principal reclamação é a escala de trabalho. Até março de 2021, funcionava o sistema “3 2 2 3”. Assim, os profissionais ficavam nas embarcações três dias e depois dois em casa, mais dois trabalhando e mais três descansando. Exemplo: de segunda a quarta na embarcação, quinta e sexta de folga, sábado e domingo trabalhando e de segunda a quarta descansando. Esse sistema de rodízio permitia que os rebocadores tivessem um final de semana em casa a cada duas semanas. Quando veio a pandemia, a escala foi alterada para sete dias na embarcação e sete dias de folga, para diminuir as possibilidades de interação e aumentar os tempos de isolamento.

Contudo, essa situação, que era para ser provisória, foi se estendendo e dura até hoje, causando desconforto para muitos rebocadores. O tempo prolongado no mar estaria causado desgastes e até perigo de acidentes. Para entender a situação, é necessário compreender como o trabalho é executado. Cada embarcação usada para rebocar costuma ter quatro profissionais, com atividades variadas, desde manutenção, pintura, preparo de alimentação, elaboração de relatórios e, claro, a realização de manobras.

Depois que entram no turno de trabalho, precisam ficar de prontidão, esperando ser acionados pela praticagem (responsável pelas manobras), para dar suporte no processo de atracar e desatracar navios. Buscam na altura da Ponta da Cruz, conduzindo até os berços, mediante instruções do prático, e depois que a carga é retirada, levam o navio novamente até o ponto em que pode seguir viagem sozinho. Em Paranaguá, atuam 14 embarcações de rebocadores e cerca de 180 trabalhadores.

Patrick Couto, vice-presidente do Settapar: entidade está recebendo relatos de estafa por causa da escala de trabalho e busca negociação com empresas. Foto: Diogo Monteiro/JB Litoral
Negociação emperrada

Alguns profissionais relataram que estão estafados com o regime de trabalho, alegando que não conseguem descansar no período em que estão nas embarcações. As queixas chegaram até o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Marítimos e Fluviais e Empregados Terrestres de Empresas do Paraná (Settapar). O vice-presidente da entidade, Patrick Couto, destaca que a situação compromete a saúde dos trabalhadores e coloca a operação em risco de acidentes. E que uma excepcionalidade adotada em função da pandemia está sendo prolongada por ser mais interessante para as empresas.

A reportagem do JB Litoral conversou com um rebocador que prefere não se identificar. Ele comentou que o modelo de sete dias é bem mais cansativo. Segundo o profissional, a maior parte das manobras são realizadas à noite e durante o dia há uma série de atividades, como manutenções mecânicas, que o impede de dormir. Algumas manobras de atracação levam a noite toda, mas o mais usual é demorarem cerca de duas horas.

O sistema da escala “3 2 2 3” estava previsto em acordo coletivo, que venceu em janeiro e não foi renovado. A entidade sindical pressiona por uma resposta, mas ainda não obteve retorno. A reportagem do JB Litoral procurou algumas empresas do setor, como a Wilson Sons e a Saam, mas ambas preferiram não se pronunciar sobre o assunto. Não há um sindicato patronal que represente as empresas. Apenas a Paranaguá Pilots teria cedido aos apelos da categoria e retomado a escala anterior à pandemia.