Servidor da Prefeitura de Pontal do Paraná é investigado por denúncia de maus tratos a animais


Por Redação Publicado 07/08/2021 às 13h51 Atualizado 16/02/2024 às 09h32

A situação não é recente, segundo afirma Ana Viana, uma das voluntárias do grupo em defesa, que providencia a castração de animais que vivem nas ruas de Pontal do Paraná, com apoio de protetoras. Entretanto, chegou a um ponto que foi feita a denúncia contra o servidor municipal, Aliomir Ramos, 64 anos, por maus tratos a animais.

O primeiro “resgate” de cachorros na residência de Aliomir, feito por Ana Viana, ocorreu há quase dois anos. “Eu não aguentava mais passar em frente à casa dele, que fica no caminho do local onde nosso grupo realizava eventos e reuniões antes da pandemia, e ver a situação dos cachorros. Fui lá e resgatei dois bem doentes, infestados de pulgas e carrapatos, que eram mantidos presos e em condições degradantes. Os vizinhos me aplaudiram quando salvei os animais”, disse Ana Viana, uma das voluntárias, que na ocasião já registrou a primeira denúncia via 181.

De lá para cá, a situação não mudou e a única vez que o servidor público concordou em atender ao pedido do grupo foi para castrar uma cadela que estava em sua residência, mas outras foram surgindo. “Ele deixa cachorros entrarem no terreno quando as cadelas estão no cio, elas amarradas e os cachorros em cima, é uma tristeza. Depois os filhotes nascem ele coloca todos para fora. E foi o que aconteceu há duas semanas, fomos novamente lá e resgatamos uma fêmea que, infelizmente, não resistiu. As condições eram completamente assustadoras, a água era um resto esverdeado e cheio de larvas de insetos. Novamente denunciamos”, relatou Ana. Meses antes, as voluntárias também tentaram cuidar de cinco filhotes, mas quatro deles não resistiram.

Caso de Polícia

Após denunciarem para a prefeitura e à Polícia Civil, uma diligência, composta por representantes da Delegacia de Pontal, Secretaria de Meio Ambiente e Guarda Civil Municipal, foi até a casa de Aliomir Ramos, no dia 20 de julho, mas não o encontraram. Segundo o Boletim de Ocorrência, registrado após a saída das equipes, a que o JB Litoral teve acesso, foi descrito que a residência estava com janelas e portas abertas, mas que não havia ninguém. Também que foi possível avistar casinhas de cachorro no quintal, potes de ração e água em condições insalubres de higiene e, por uma das janelas, era possível ver um cão de cor amarela, em condições razoáveis, visto de longe. E, ainda, que em conversa com os vizinhos, relataram às equipes que no dia anterior havia mais animais na casa e que já foram observados animais morrendo no quintal por falta de cuidado.

O JB Litoral conversou com a diretora de Departamento, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca, Flávia Caroline Deable Zacarias. Ela foi a representante da prefeitura que acompanhou a diligência à casa onde os cães vêm sofrendo maus tratos, de acordo com a denúncia.

“Após sair de lá, registrei um boletim de ocorrência com tudo o que conseguimos apurar no local, pois não houve flagrante, uma vez que o proprietário não estava no local e os animais supostamente maltratados já haviam sido resgatados. Ao boletim de ocorrência aberto pela prefeitura, anexei as fotos da vistoria e as que recebi das denunciantes e as informações que elas nos repassaram. Agora está sob a responsabilidade da Polícia Civil. Claro que se chegar nova denúncia, vamos acompanhar e poderemos voltar ao local. Mas agora vamos aguardar as investigações da Polícia Civil sobre o caso. Também foi solicitado dois atendimentos emergenciais a cães que, segundo as denunciantes, foram resgatados daquele local. Os atendimentos foram realizados em momentos distintos, um dos animais veio a óbito e o segundo se recupera e ficou sob a tutela de quem o resgatou”, finalizou a diretora.

Mais um resgatado

O cão citado no Boletim de Ocorrência, visto de longe pelas equipes e, posteriormente, atendido pela clínica veterinária conveniada com a prefeitura, também foi resgatado, no dia 26 de julho, pelas voluntárias. Segundo o laudo da veterinária que o atendeu, o animal é um filhote, de aproximadamente oito meses, com feridas em axilas, provocadas possivelmente por picadas de pulgas e carrapatos, tinha bastante fezes de pulgas nas orelhas e escoriações na região do focinho e em “braço” esquerdo. A voluntária conta que é a segunda vez que o resgatam. A primeira vez foi quando ele foi arremessado por um carro na rodovia, depois uma tutora o adotou, assinando um termo de responsabilidade. Para a nossa surpresa, ele agora estava nessas condições, naquele local tão triste. O resgatamos de novo, quase uma semana depois que a polícia foi lá, disse Ana Viana.

O outro lado

O JB Litoral também conversou com o servidor municipal Aliomir Ramos, que trabalha no embarque para a Ilha do Mel e está vinculado à Secretaria de Turismo e Desenvolvimento Sustentável de Pontal do Paraná.  Segundo ele, cachorro maltratado não tem alimentação e fica amarrado. O que tinha aqui era de uma amiga minha, que mora em um sobrado, estava fazendo muito barulho e ela deixou aqui. Os outros, o pessoal de uma ONG levou, entrou aqui quando eu estava trabalhando e levou embora. Mas não estavam sendo maltratados. Pode ter o inquérito, não tem nada que prove. Agora eu coloquei câmeras em minha casa e vou saber quem entra aqui, que daí eu vou atrás e o negócio vai ser diferente, disse, em tom de ameaça. 

O que diz a prefeitura?

Procurada pela reportagem, a prefeitura afirmou, por meio do assessor Marcelo Elisio, que como a denúncia trata de conduta fora do local de trabalho, a administração municipal vai aguardar a finalização do inquérito policial para se manifestar, caso fique comprovado o crime de maus tratos a animais, por parte do servidor.

Por Flávia Barros