Temporada violenta – Polícia Civil fala sobre quantidade de homicídios registrados em agosto; “mês atípico”, diz delegado


Por Luiza Rampelotti Publicado 07/09/2022 às 17h42 Atualizado 17/02/2024 às 16h52

O mês de agosto se encerrou com o total de 8 homicídios registrados no Litoral do Paraná: foram 5 em Paranaguá e 3 em Matinhos. Além disso, 6 suspeitos de terem cometido crimes também foram mortos em confronto com a Polícia Militar, em Paranaguá. Desta forma, somente no mês passado, 14 casos de mortes violentas aconteceram na região.

Para falar sobre o alto índice de mortes violentas, bem como sobre a sensação de insegurança que os moradores sentem com a criminalidade que assola a região, o JB Litoral conversou com o delegado chefe da 1ª Subdivisão Policial de Paranaguá (SDP), Rogério Martin de Castro.

O mês de agosto foi atípico dentro do que se ‘espera’ da prática de crime de homicídios na cidade. Mas dentro da dinâmica que envolve a apuração desses crimes, não temos nenhum homicídio que esteja no zero no quesito investigação. Temos informações, em algumas ocorrências mais, em outras menos, assim como testemunhas, imagens de vídeos que ajudam a identificar os autores, temos bons elementos para atribuir a autoria para todos esses crimes cometidos em Paranaguá”, revela.

De acordo com ele, o homicídio é o tipo de crime que mais assola, preocupa e demanda a Polícia Judiciária em Paranaguá e que, na cidade, a maioria deles acontece devido à guerra entre facções. “A gente percebe uma dinâmica que ocorre também em Curitiba, Região Metropolitana e outras cidades que, por características, demandam atenção. Todos os homicídios, tirando algumas exceções lógicas, são decorrentes da guerra entre facções criminosas, sendo mais específico entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e Primeiro Grupo Catarinense (PGC) que tem uma ligação forte com o Comando Vermelho (CV) do Rio de Janeiro”, diz.

40% dos crimes elucidados


Segundo o delegado, por conta de Paranaguá ser uma cidade portuária, onde o volume de tráfico é grande e envolve muito dinheiro, ela se torna predisposta a trabalhar e a lutar contra a criminalidade. Ele informa que do início do ano até o momento, 43 homicídios já foram registrados no Município.

Desses homicídios, eu diria que 40% dos crimes estão elucidados, temos a autoria e alguns pedidos de prisão já efetuados. O que percebemos é que, em muitos casos, o criminoso é identificado, tem a prisão decretada, mas ele não está na cidade, porque envolve organizações que têm laços em Santa Catarina (PGC) por exemplo; aí existe um trabalho de troca de informações entre as polícias para tentar localizar essas pessoas”, comenta.

Dentro da porcentagem citada, Rogério afirma que, pelo menos, a metade dos casos elucidados, ou seja, 20%, se encerraram porque o autor do homicídio já foi morto em outro Estado, especificamente Santa Catarina ou Rio Grande do Sul. “Dentro dessa margem, não chega a 20% o número de prisões efetuadas, porque são ações penais que acabam se extinguindo por conta da morte do agente”, explica.

O JB Litoral questionou a respeito da possibilidade da criação de uma Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) em Paranaguá, com o intuito de atender toda região litorânea. No entanto, o delegado revela que a falta de servidores na Polícia Civil é um impeditivo, pelo menos até o momento.

Perspectiva de criação de uma DHPP


O número de homicídios no Litoral desperta a atenção do departamento da Polícia Civil e tenho conhecimento que é uma meta a criação de uma DHPP, nos moldes que temos em Curitiba, por exemplo. O que dificulta a criação, é a falta de pessoas que possam se dedicar exclusivamente à apuração dos crimes de homicídio. Temos um bom número de delegados e investigadores fazendo escola superior na Polícia Civil, acredito que, dentro daquilo que é possível, há uma boa perspectiva da criação da divisão se tornar realidade”, comenta.

Rogério também ressalta a importância da Muralha Digital – câmeras de última geração instaladas em pontos estratégicos da cidade – para a elucidação de crimes. Ele afirma que boa parte dos pedidos de prisão são embasados em imagens obtidas por meio de denúncias anônimas.

Muitas vezes a pessoa não viu o crime acontecer ou, se viu, tem o sentimento de medo de ser perseguido ou ameaçado; mas um simples detalhe que ela informa, juntando com outros detalhes, pode ser suficiente para encontrarmos o veículo do criminoso e até o próprio autor. Paranaguá tem uma rede digital muito boa e ampla, dificilmente alguém faz algo longe dos olhos digitais. Basta você ter um fato e procurar, porque irá encontrar imagens, e isso nos auxilia muito. Quando não é pela placa do veículo, é por característica do capacete, da motocicleta, detalhe de adesivos, tatuagem, coisas que conseguimos visualizar pelas câmeras, que têm uma imagem muito boa, e levam à identificação da pessoa”, diz.

Prefiro conseguir uma condenação”, diz delegado sobre número de prisões


O delegado também deixa sua mensagem para a população parnanguara, que tem se sentido refém da criminalidade e impunidade. “Uma palavra que define a força de combate à criminalidade é a união. Uma pessoa sozinha pode se sentir ameaçada e não querer denunciar o que sabe, mas 10 pessoas é uma união de testemunhas que, se não viram o fato, pelo menos ouviram algo. Um ou dois criminosos não vão ameaçar e levar efeito as ameaças contra essas pessoas”, começa.

Ele explica que, às vezes, uma prisão demora mais tempo do que uma família espera, mas que existem trâmites legais que a polícia precisa seguir sob pena de expor uma testemunha, por exemplo. O delegado destaca que seu objetivo não é apenas conseguir uma prisão em flagrante, mas uma condenação.

A população pode acreditar que todos os homicídios são apurados; alguns não naquela velocidade esperada, pois os crimes que envolvem organizações criminosas são complexos, envolvem técnicas de investigação apuradas. Todos podem ter certeza que o nosso trabalho não vai parar, a razão da nossa existência é combater a criminalidade. Prefiro demorar meses numa investigação e conseguir provas robustas para a condenação do criminoso, do que dar resposta imediata que deixe falhas na investigação e faça com que o advogado do acusado consiga absolve-lo”, finaliza.