UM NOVO PARNANGUARA – Dr. Daniel Ruiz, vocação para o trabalho e alívio do sofrimento


Por Redação JB Litoral Publicado 17/11/2015 às 06h00 Atualizado 14/02/2024 às 10h58

O que esperar de um bebê que tem seu cordão umbilical cortado justamente no dia 1° de Maio, quando se comemora o Dia do Trabalho e no ano de formatura do cardiologista Euryclídes de Jesus Zerbini, conhecido internacionalmente por ter realizado o 1° transplante de coração no Brasil e o 5° no mundo, senão alguém com DNA composto pela paixão ao trabalho na área da medicina. 

Foi assim que veio ao mundo o clínico geral Dr. Daniel Ruiz, que teve seu trabalho reconhecido na cidade pela vereadora Sandra Luzia Lopes dos Santos Souza (PP), a Sandra do Dorinho, que lhe concedeu o título de Cidadão Honorário de Paranaguá, com data de entrega ainda ser marcada.
Natural de Cambará, no Paraná, depois de passar pelos bancos escolares de sua cidade natal, seguiu para Marília, em São Paulo e depois retornou para Curitiba onde se formou em medicina em 1968 e, um ano depois, já estava na Terra de Fernando Amaro.

Quis o cupido que conhecesse sua esposa justamente na sua área profissional, a enfermeira concursada atuando no Governo Federal, Verônica, que lhe deu a maior prova de amor de sua vida: largar a profissão que recém iniciara para ficar ao seu lado. Desta união vieram duas filhas, Ana Paula e Ana Cláudia.

Com uma filosofia de vida pautada pelo respeito, disciplina, obediência e um apurado senso de bom humor, Dr. Ruiz sempre encarou os desafios como motivação para vencer obstáculos e, com isso, abraçou todas as missões que a profissão lhe impôs, inclusive com risco de morte, como no episódio do ebola.

Assim sua trajetória contou com diversas chefias, como no Centro de Saúde, Distrito Sanitário, 1ª Regional de Saúde, INAMPS e na Inspetoria de Saúde dos Portos de Paranaguá e Antonina, atualmente ANVISA. Também passou pela antiga Santa Casa de Misericórdia, como vice-provedor e Diretor Clínico, Clínica São Paulo, Universidade Católica do Paraná e Prefeitura de Paranaguá. Atualmente e há 30 anos atende a Colônia de Pescadores Z-1 de Paranaguá. Nesta entrevista exclusiva, Dr. Ruiz conta parte de sua trajetória, inclusive da fase que a medicina quase o perdeu para área da comunicação.

JB – Quando veio para Paranaguá?

Dr. Ruiz – Em 1969, porque minha chefia era aqui. Iríamos implantar um plano chamado Ação Sanitária Conjunta que integraria os serviços de Guaratuba com experiência de medicina preventiva e curativa com suporte na Santa Casa de Guaratuba. Fiquei dois anos e aí não teve jeito: tive que vir para cá porque o centro era maior e a oportunidade de trabalho era outra.

JB – Quanto tempo de atendimento médico o Sr. possui?

Dr. Ruiz – Ainda não posso dizer porque nunca parei. Trabalhei para a prefeitura até a época que o prefeito Roque era vivo. Ele era uma pessoa que eu e minha mulher gostávamos demais. Roque era bravo, ríspido, mas um ser humano de primeira. Ele me pediu para atender na Secretaria de Saúde e até pouco mais de um ano e meio atrás atendia. Depois que ele morreu, parei.

JB – Nesta trajetória houve alguma situação difícil?

Dr. Ruiz – Sim. Numa ocasião chegou um navio da China que passou pela África e abasteceu de água na África, num local chamado Togo, aonde vinha acontecendo uma epidemia de ebola, doença que, graças a Deus, até hoje não chegou ao Brasil. É uma doença que mata, pegou ebola está morto. Nesta época tínhamos assistido um documentário para ficar por dentro da doença. Nesse treinamento vimos coisas dantescas, doentes embrulhados em lençóis sendo jogados na fogueira, porque era o único jeito de reduzir a incidência. Foi essa doença que esse navio era possível que tivesse trazido, porque tinha mortos a bordo e eu fui escalado para checar se tinha ou não ebola.

JB – O senhor teve medo?

DR. Ruiz – Não tive medo, na verdade tive paúra. Mas não tinha como, era pago para ver essas situações, tinha de checar o navio antes de ele atracar. Felizmente não era ebola, graças a Deus eu estou aqui, porque se fosse não estaria. Tive que ir sozinho ao navio por ser o chefe do setor na época, até porque se fosse mesmo a doença porque expor mais pessoas? Apesar de que teve uma pessoa que me perturbou querendo ir junto, que foi a vereadora Sandra do Dorinho, mas não pude deixar.

JB – E a história do Nicodemos que quase o fez jornalista?

DR. Ruiz – Foi na época que era estudante de medicina onde criamos um jornal, “O Nicodemos” que, modéstia à parte, ficou muito bom e eu tive o prazer de dirigi-lo. Serviu por alguns anos dentro da Universidade Federal do Paraná, na área de medicina e com isso aprendemos outra área, hoje em dia, bastante respeitada. Eu sei o que é editar e redigir um jornal, o que era muito difícil. Hoje se senta diante do computador e tem mais facilidade, mas antes sofríamos durante seis a oito meses.

JB – Diga como é este trabalho com a Colônia de Pescadores.

Dr. Ruiz – Têm uns 30 anos que atendo a colônia. Se olharmos os pescadores, com alguma exceção, as famílias têm essa coisa de obediência, de se viver em família e eles são muitos disciplinados e educados, por isso que é um prazer atender a Colônia de Pescadores. Atendo a Colônia desde que ela existe e sempre que quiserem estarei à disposição. Mas fui tomado de surpresa quando a vereadora Sandra pediu esse título. Eu fico pensando e conversando com a minha mulher e acho que é uma coisa elevada ser um cidadão reconhecido. A Sandra identificou que eu sinto isso e achou talvez o mérito nas coisas que faço. Conheço a Sandra desde o tempo da Santa Casa, ela era pequenina e já trabalhava numa área difícil. Ela faz um trabalho gigantesco e passei admirá-la por isso. Sandra passou ser o elo de contato muito grande e, provavelmente, percebeu coisas, gostou e talvez resolveu me conceder um título, desse que enaltece, faz a gente renascer e nos orgulha demais. Ser reconhecido como um cidadão diferenciado, um parnanguara quase nato.

JB – Que mensagem daria aos novos médicos?

Dr. Ruiz – Apenas uma: sempre invista num atendimento mais humano em todas as especialidades, quer na pediatria, clínica médica, mais atencioso onde precisa do remédio, mas um pouquinho mais de calor humano é essencial. Eu atendo muita gente de idade e se soubermos levar isso com um pouco mais de atenção, amor e calor humano, você não pode fazer muita coisa, você pode não restabelecer um velho, mas o calor humano ajuda bastante, às vezes, bem mais que o remédio. É isso que recomendaria para meus colegas jovens que estão começando.