Veleiro usado para tráfico de drogas se tornará escola de vida náutica para escoteiros; barco ficará atracado em Paranaguá


Por Luiza Rampelotti Publicado 09/03/2023 às 18h28 Atualizado 18/02/2024 às 06h25

Os escoteiros do Litoral do Paraná receberam um presentão na última terça-feira (7): um veleiro de 56 pés, com todas as instalações em perfeito estado – quatro camarotes, cozinha equipada, banheiros etc. A embarcação ficará atracada em Paranaguá, onde será preparada para se tornar um veleiro-escola.

O barco, de 56 pés, foi apreendido em 2021 pela Polícia Federal e doado este ano pela Receita Federal e a Marinha do Brasil aos Escoteiros do Brasil. Com mais de 80 mil escoteiros em todo o país, a decisão de deixar a embarcação no litoral paranaense foi tomada em comum acordo com o coordenador nacional dos Escoteiros do Mar do Brasil, o morador de Paranaguá Marco Antônio Bortoli.

O veleiro será usado em uma ação pedagógica, onde vamos fazer os treinamentos para adultos e para jovens a nível de consciência marítima, ambiental e de trabalho social. Ou seja, é uma formação para que o jovem seja autônomo nas suas atitudes futuras. Isso é mais uma ferramenta que os escoteiros do Brasil apresentam à sociedade”, diz Marco.

O coordenador nacional também adianta que o porto base do veleiro será Paranaguá, mas que já há uma programação para que a embarcação vá para outros grupos de escoteiros ao redor do país durante o ano. “Isso vai funcionar pelo período do primeiro semestre do ano que vem. Mas, agora, iremos preparar a embarcação para a questão de treinamento, pois nós a pegamos em um formato que não é de escoteiros e precisamos colocar esses implementos de ação pedagógica”, explica.

A recepção ao veleiro aconteceu na terça-feira (7), na Capitania dos Portos, em Paranaguá. Foto: Luiza Rampelotti/JB Litoral

O que aconteceu com o barco?

O veleiro Lamia se trata de uma embarcação do Panamá, apreendido em flagrante em setembro de 2021, com 632,65 kg de haxixe, próximo ao arquipélago de Fernando de Noronha (PE). Na ocasião, dois italianos foram presos por tráfico de drogas.

Após um processo judicial, o barco pôde ser finalmente doado aos Escoteiros, que apresentaram um projeto para sua utilização. Depois de 26 dias em alto mar, o veleiro chegou ao destino final, onde foi recebido com muita empolgação.

Ele saiu de Natal, no Rio Grande do Norte, onde estava apreendido, e passou por Maceió (AL), Salvador (BA), Ilhéus (BA), Vitória (ES), Rio de Janeiro (RJ), Ilha Bela (SP) e Santos (SP), cidades onde os Escoteiros têm sede, até chegar a Paranaguá. Na última perna da travessia, de Santos até aqui, foram 30 horas ininterruptas de viagem, com 11 pessoas a bordo”, conta João Basílio Pereima, presidente do grupo Escoteiros do Mar de Antonina, que também estava a bordo do veleiro durante todo o período.

Durante os 26 dias, a embarcação foi tripulada por chefes dos escoteiros do Brasil e, em seus pontos de parada, foi recepcionada por escoteiros de toda a costa brasileira. Cada grupo que visitou o veleiro deixou um lenço no mastro do barco, registrando sua passagem e criando uma nova tradição escotista.

Mudança de missão

Saindo do tráfico de drogas para a missão nobre da educação, o veleiro-escola se tornará uma ferramenta educativa para que os escoteiros sejam iniciados na vida náutica, aprendendo todas as funções do mar e da vida a bordo. “Isso será muito importante para o desenvolvimento da pessoa, do jovem, e é isso que o movimento escoteiro propõe; o desenvolvimento da juventude em prol da construção de um mundo melhor. A vinda do veleiro para os Escoteiros do Brasil será um grande ganho para toda a comunidade escoteira do país, especialmente do Paraná e do Litoral”, diz o diretor presidente da região de escoteiros do Paraná, Rosano Ouriques. 

João Brasílio destaca que o programa pedagógico para a utilização do barco envolve um período de residência a bordo, conteúdo de navegação, oceanografia, meteorologia, eletrônica, mecânica, limpeza geral e cozinha. “Os escoteiros vão fazer tudo, como se fosse uma tripulação de um barco que está velejando. Isso tudo é uma aula de autossuficiência, as crianças aprendem a resolver problemas que ela vai encontrando pela frente, tem que tomar iniciativa, atitude”, comenta.

O barco tem 56 pés, além de quatro cabines com banheiros, cozinha e demais equipamentos. Foto: Luiza Rampelotti/JB Litoral

O chefe escoteiro Alexandre Luiz Schneider também esteve na travessia com a função de chefe de máquinas. Ele contou que a experiência de velejar durante quase um mês foi maravilhosa e muito útil para que houvesse a vivência a bordo na prática.

Agora, ele conta que o objetivo do movimento é formar os adultos para que, na sequência, os jovens também recebam as aulas sobre vida náutica. “O primeiro item necessário é adaptar o barco para que se transforme em um veleiro-escola; depois, capacitar os adultos para que, então, possamos trazer os jovens. É um barco grande, precisa de pelo menos três ou quatro pessoas para navegar ele, então precisamos de pessoas preparadas para poder trazer os jovens e passar o final de semana entendendo a função que tem que se fazer a bordo. Eu, por exemplo, tive a função de chefe de máquina, mas essa é apenas uma função, porque também é necessário fazer todo o resto: limpeza, cozinha, ajuste de velas etc. Cada um tem uma área, mas todo o resto tem que ser divido”, relata.

E o nome do veleiro?

De acordo com João Basílio, em breve haverá um concurso nacional, para todos os mais de 80 mil escoteiros do Brasil, para escolher o nome do veleiro. “Atualmente ele vem com o nome Lamia, que para nós não tem nenhum significado importante. Nos próximos dias vamos abrir um concurso nacional para todos os escoteiros do Brasil, que poderão sugerir os nomes que tenham a ver com a história do mar do Brasil e, então, um será escolhido”, revela.  

O barco saiu de Natal (RN) dia 10 de fevereiro, com três tripulantes fixos: Gutemberg Felipe Martins, chefe escoteiro presidente do Grupo Escoteiro do Mar Velho Lobo; Marco Antônio Bortoli e João Basílio Pereima.

Conheça o veleiro por dentro