Aulas em casa: mães viram professoras e auxiliam comunidade escolar


Por Luiza Rampelotti Publicado 12/05/2021 às 20h10 Atualizado 16/02/2024 às 01h59

Por Luiza Rampelotti

Que toda mãe tem um lado enfermeira, amiga, psicóloga, cozinheira e protetora, todos sabem. Que elas são videntes, também. Mas, durante a pandemia do coronavírus, instalada no país desde março do ano passado, um lado bem conhecido das mães: o de professora, precisou ser ainda mais explorado.

Com as aulas presenciais suspensas e acontecendo no modelo home office (remoto, via on-line e/ou televisão), há mais de um ano, elas tiveram que superar mais um desafio, o de acompanhar os filhos diante dos conteúdos escolares, em casa. Muitas delas sequer têm o ensino básico completo, mas, da noite para o dia, assumiram o papel de ensinar e auxiliar as crianças e adolescentes com as atividades didáticas.

Por isso, a instituição de ensino Escola Municipal em Tempo Integral “Nascimento Júnior”, de Paranaguá, decidiu homenagear, no mês das mães, aquelas que fazem parte da comunidade escolar. “São muitas famílias bastante humildes, mas que nunca deixaram de nos apoiar. As mães nos ajudam muito no sentido das atividades escolares, estão sempre atentas e dispostas a fazer o melhor pelos filhos, independente da carga que já carregam dos serviços domésticos e do trabalho”, diz a pedagoga orientadora Flávia Pereira Lima.

Mães deram força à arte e missão de ensinar

Ela conta que, com a chegada da pandemia, o trabalho das mães, que já era intenso, aumentou. “Elas são incansáveis e deram ainda mais sentido à beleza da maternidade. Vendo o esforço de todas, não poderíamos deixar de homenagear aquelas que se uniram aos nossos professores e deram força na arte e missão de ensinar”, agradece.

A pedagoga destaca que, durante a pandemia, as mães estão tendo uma participação de extrema importância na vida escolar dos filhos. “Assim como os professores tiveram que se reinventar, os pais também tiveram que adaptar suas rotinas de trabalho e a rotina escolar dos filhos”, afirma.

A princípio, a mudança causou dificuldade para todos, mas, no decorrer dos dias, quando as mães já estavam mais entrosadas com os professores, criou-se um vínculo entre a escola e as famílias, o que possibilitou que as coisas se tornassem mais fáceis. “Claro que a maioria das mães não tem formação pedagógica para trabalhar com os filhos, mas elas abraçaram a causa de ensinar e foram em frente. Essa participação foi surpreendente para nós, professores, porque elas tentaram, tiveram sugestões, tiraram suas dúvidas, buscaram informações”, conta Flávia.

Jornada tripla para as mães

A mãe Vanessa Nascimento tem um filho de 6 anos matriculado no 2º ano da escola. Ela revela que a nova experiência vivida durante a pandemia fez com que ela precisasse se reinventar como mãe. “Pra mim, tudo isso tem sido um aprendizado, pois, mesmo fazendo curso para ser professora, aprendi na prática a exercer a função e, ainda, conciliar com as atividades como mãe e dona de casa. Dá um pouco de trabalho, porém, tudo na vida por um filho e pelo aprendizado deles vale a pena”, comenta.

A rotina para Vanessa é corrida. Pela manhã, os afazeres domésticos são feitos; às 11h o almoço precisa estar pronto, pois, ao meio-dia, ela sai para o trabalho. Bernardo fica com a avó até às 18h30, quando a mãe chega em casa e começa a terceira jornada do dia: auxiliar o filho nas atividades didáticas.

“A força da mulher é uma força superior”

“Eu vejo todas essas mães como guerreiras, batalhadoras, pessoas persistentes que não desistem. São incansáveis, tiram força de onde não têm, porque não têm tempo nem para elas, mas não deixam a questão da educação dos filhos de lado. A força da mulher é superior, ela faz de um momento de crise como esse, com uma pandemia, se tornar uma história de superação”, conclui a pedagoga Flávia.