“No final do jogo, eu já estava chorando”, conta atleta parnanguara vítima de injúria racial


Por Amanda Batista Publicado 20/06/2023 às 15h08 Atualizado 18/02/2024 às 14h48

No último domingo (18), durante uma partida de voleibol entre o Novo Esporte Litoral Paranaense (Nelp), de Paranaguá, e o time de Colombo, nos Jogos Abertos do Paraná (JAPs), em Campo Largo, a atleta parnanguara Suellen Cordeiro, de 34 anos, foi vítima de injúria racial por um dos torcedores da equipe rival, que foi preso pela Polícia Militar ao final da disputa.

O caso aconteceu na Escola Municipal Carlos Drummond de Andrade. A partida acirrada valia a classificação nas semifinais dos Jogos Abertos e cada ponto era comemorado intensamente pelas equipes.

Suellen conta que toda vez que o time de Colombo marcava, o torcedor xingava e debochava da equipe parnanguara, mas as provocações não pararam por aí. Quando a atleta conseguiu marcar, ele fez gestos de macaco e disse “tinha que ser de Paranaguá mesmo essa preta”.

Ao ouvir a injúria, a parnanguara tentou acionar os árbitros e o coordenador da partida, mas foi aconselhada a voltar para o jogo, sem chance de explicar sobre o que estava acontecendo. Ela afirma que em nenhum momento os árbitros tiveram interesse em averiguar a situação ou procurar saber quais eram as ofensas proferidas ao time.

Eu tentei parar o jogo três vezes, tentei falar com o primeiro e com o segundo árbitro, questionei o coordenador e ele falou apenas: ‘vai para o jogo’. No final, eu estava chorando por conta de toda aquela situação e o coordenador veio até mim e disse: ‘Ah, eu não sabia que era injúria racial, você não me falou’, mas ele não me deu a chance de explicar o que estava acontecendo durante a partida”, conta a atleta.

Ao ser ignorada, mesmo sendo a vítima da situação, Suellen decidiu não assinar a súmula (documento de registro da partida) e buscou auxílio junto à Comissão Central Organizadora (CCO), que a orientou a acionar a Polícia Militar se o autor ainda estivesse no local.

Chamei a polícia, daí eles ouviram a situação e levaram o torcedor para a delegacia. Ele está preso porque precisa pagar uma fiança de R$ 13.200 para responder em liberdade e ainda quer me processar por calúnia, mas já acionei meu advogado, não vou deixar passar batido”, afirma.

Consequências legais


O denunciado, que é morador de Colombo, foi encaminhado para a Cadeia Pública de Campo Largo, onde permanece preso. O homem deve responder pelo crime de injúria racial. Conforme a Lei 14.532/2023, a injúria racial é um crime inafiançável e sem prazo para que os autores sejam punidos pela Justiça. A pena varia de 2 a 5 anos, sem direito a fiança.

Um apelo às vítimas


De acordo com o Sindicato dos Professores do Paraná, este não foi o primeiro caso de injúria registrado em jogos no estado. Em abril, na etapa municipal dos Jogos Escolares em Paranavaí, três alunos foram vítimas de insultos ligados à cor da pele e características dos cabelos em diferentes partidas da competição. Em todos os casos, os alunos que cometeram crime de injúria não foram punidos.

Para lutar contra essa realidade, Suellen faz um apelo para que outras vítimas também não se calem e busquem seus direitos, mesmo que no momento da agressão as autoridades não deem ouvidos.

O que eu quero é que as pessoas tenham coragem de denunciar. Esse é um crime inafiançável, e, infelizmente, nossa arbitragem não está preparada para lidar com essa questão. Por isso, vou levar o processo adiante, para que as pessoas vejam que temos sim que denunciar, que reclamar, mesmo que os outros achem que é uma coisa pequena, sem importância”, diz.

Manifestações de apoio


Durante a sessão ordinária da última segunda-feira (19), o vereador Manoel Aleixo (PP) levou o caso para a tribuna da Câmara de Paranaguá. Em seu discurso, o parlamentar se solidariza com a atleta e, em nome da Casa, diz que a cidade espera justiça pelo crime cometido contra a parnanguara.

A gente vê nas redes sociais, na TV, a ofensa racial, mas isso aconteceu aqui perto. Eu, como vereador, me solidarizo com a atleta. Jamais vamos aceitar que este tipo de atitude se repita. Esperamos que sejam tomadas as devidas providências, não queremos nada mais do que está previsto na lei”, disse o vereador.

Nas redes sociais, o Nelp Paranaguá também manifestou apoio a Suellen e destacou o papel da ética no ambiente esportivo.

São inadmissíveis os atos criminosos de racismo, injúria racial e seus autores no voleibol, onde prezamos pela competição saudável e pelos valores que o esporte educacional ensina: a ética, o jogo limpo, a superação, o trabalho em equipe e o respeito às regras. O esporte é um direito social de todos e a quadra de vôlei sempre será um ambiente democrático (…) ao final de cada partida, aprendizado e relacionamentos são construídos. É por isso e para isso que jogamos voleibol”, afirma a equipe.

Em nota, o Governo do Estado lamentou o ocorrido e afirmou que todas as providências já estão sendo tomadas pelas autoridades competentes.

Todas as diligências cabíveis estão sendo realizadas a fim de esclarecer o fato. O Estado se solidariza à vítima e manifesta total condenação a qualquer forma de discriminação racial, seja no âmbito esportivo ou na vida cotidiana. (…) Os Jogos Abertos têm como foco criar um cenário em que todos os cidadãos possam participar e desfrutar plenamente das atividades esportivas. A discriminação racial não tem lugar no estado do Paraná (…)”, ressalta.

MPPR oferece denúncia

Nesta terça-feira (20), o Ministério Público do Paraná, por meio da 2ª Promotoria de Justiça de Campo Largo, denunciou criminalmente o homem que cometeu a injúria racial. O denunciado tem 26 anos.

De acordo com o inquérito policial sobre o caso, o autor estava na arquibancada e, por diversas vezes durante a partida, teria proferido falas e gestos ofensivos dirigidos à jogadora.

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