“Devo tudo ao porto”, diz Teixeira, há quatro décadas moldando os rumos de Paranaguá


Por Redação Publicado 20/03/2023 às 13h28 Atualizado 18/02/2024 às 07h19
Teixeira
Teixeira está há 47 anos no porto de Paranaguá e não quer se aposentar. (Claudio Neves/Portos do Paraná

Em mais da metade dos 88 anos do porto de Paranaguá, uma figura foi presença constante. Muitos gestores passaram pela administração portuária, mas poucos representam tanto a alma do lugar como Luiz Teixeira da Silva Júnior. Entrou ainda estagiário e, 47 anos depois, segue trabalhando. Mas desde fevereiro não ocupa mais o posto em que esteve nos últimos oito anos. A posição de diretor de Operações passou para o engenheiro Gabriel Perdonsini Vieira, mas Teixeira se recusa a se aposentar e segue de prontidão para colocar um novo projeto em prática.

Embora não tenha nascido na cidade, chegou em Paranaguá aos 10 anos. Ainda criança, se deparou com a grandiosidade do lugar. Ia com o pai, então diretor financeiro da prefeitura, cobrar os impostos. “Impacta muito, dá uma sensação de realidade. É uma porta para o mundo”, relata. Hoje, quando vê estudantes de escolas em visitas agendadas ao porto, vê o entusiasmo e pensa na oportunidade. “Muitas pessoas que moram na cidade nunca estiveram no porto”, comenta.

A primeira relação profissional de Teixeira com o porto foi entre os anos de 1974 e 1976, nos períodos de férias da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, onde estudava Engenharia Elétrica. Assim que se formou, recebeu um convite para trabalhar no setor de estudos e projetos elétricos, que foram efetivamente executados. Logo depois foi chamado para atuar na manutenção, ajudando a cuidar das subestações de energia e cuidando de um quilômetro de rede de alta tensão. Aos poucos, foi virando gestor de equipes – função que desempenha até hoje. 

O passo seguinte foi comandar o setor de manutenção, na época em que a administração portuária agia também como operador, carregando e descarregando navios. Durante essa fase, trabalhou tanto no Cais Oeste como no corredor de exportações. Em 2002, foi convidado para assumir o departamento de operações portuárias. Quando o cargo de diretor de Operações foi criado, ele foi convocado e o único ocupante do posto desde então. Ou seja, são muitos anos tomando decisões importantes. “A atividade do porto se espalha pelo município, pelo estado e pelo país”, reconhece, ciente das consequências de seu trabalho.

Tino de gestor


Teixeira também sabe que o porto proporcionou muitas oportunidades na vida, como cursos no exterior. Esteve em vários países, especialmente na Espanha, aprendendo sobre operação e logística portuárias. Viagens que levou mais de 20 anos para fazer. Hoje, sempre que pode, envia os funcionários para conhecer os melhores projetos ao redor do mundo, como o canal do Panamá. Teixeira conta que várias vezes recebeu propostas para trabalhar em outras empresas, mas afirma que nem sequer cogitou.

Já aos 55 anos, voltou a estudar. Fez uma pós-graduação em gestão de conflitos, no antigo Cefet, e todos os dias subia para Curitiba, acompanhado do filho de então 22 anos. “Passei a ver coisas que eu não estava enxergando”, conta. Isso acentuou o lado gestor. Até hoje, lida com os estagiários e diz se lembrar do tempo que também era um. Quem confirma é Sônia Regina de Araújo, que trabalhou diretamente com ele durante 14 anos. “Teixeira é uma pessoa do bem. Ele é uma pessoa admirável por sua dedicação, profissionalismo e competência. Tem como poucos uma dedicação incrível ao trabalho”, define. Ela acrescenta que aprendeu muito com o ex-diretor. “Ele não enxerga problemas, ele encontra soluções”.

Para o ex-diretor, más administrações do passado prepararam mal o porto para as necessidades e isso precisou ser corrigido. Sem dar nomes, destacou que tinha uma época que se admitia uma gestão não técnica ou pouco técnica. Os ajustes de cursos foram sendo feitos no decorrer do tempo. Embora Paranaguá possa ainda mudar muito, Teixeira imagina que sempre será um exportador de granel, mas que deve atender outras demandas de mercado.

Despedida adiada


O atual diretor-presidente da empresa pública Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia da Silva, comenta sobre a parceria. “Sou privilegiado por poder contar com a colaboração e parceria de um profissional com o conhecimento que tem o Teixeira. Nos últimos quatro anos, como um dos nossos diretores, e ainda hoje, como engenheiro e assessor, segue contribuindo com experiência e uma visão de quem já viveu muitas conquistas e também desafios junto ao Porto de Paranaguá”, declarou. Teixeira ficou o máximo do tempo permitido no cargo de diretor de Operações: um mandato de dois anos, seguido por três reconduções de igual prazo. Passou o bastão para o sucessor, principalmente deixando uma equipe que conhece as necessidades da função. “Não vou ficar do lado, porque penso que cada um tem o direito de dar a sua personalidade ao cargo”, analisa.

Sobre as homenagens que recebeu na despedida do cargo, em fevereiro, evita falar sobre a que mais o emocionou. “O que eu recebi quando saí foi o que eu tinha no dia a dia”, afirma. E diz ter cumprido a missão que recebeu. “Fiz o meu melhor”. De ter uma convivência pacífica com a comunidade portuária. “Conflitos de interesse sempre vão existir, mas hoje temos um bom relacionamento”, acredita. Na parte interna, avalia que conseguiu formar boas equipes. Durante a entrevista para este perfil, várias vezes o som dos navios se sobressaía. Mas Teixeira não se incomodava. “Barulho de navio e de trem, a gente nem sente mais”, diz. Nem disso ele sentirá saudades quando se aposentar. “Vou continuar ouvindo porque moro perto do porto, no Costeira”, conta.

No dia a dia, Teixeira ainda encontra remanescentes do concurso de 1971 – então ele não aceita ser chamado de mais antigo em atividade. “Estou me preparando para me aposentar. Um dia vai acontecer, quando terminar uma projeção que fiz na minha cabeça”, diz, sem dar detalhes dos planos. Mas afirma que ainda vai levar dois ou três anos. Nesse tempo, pretende auxiliar o sucessor na diretoria e ser assessor da presidência. “Eu ainda me acho capaz de participar do desenvolvimento do porto”, resume.